Operadora Oi quer vender participação na Unitel de Isabel dos Santos
29 de setembro de 2014
A companhia brasileira Oi, que resulta da fusão com a portuguesa Portugal Telecom, quer avançar com a venda da participação de 75 por cento que tem na Áfricatel, onde estão concentradas ações em empresas de telecomunicações africanas.
O processo de venda iniciado pela PT/Oi envolve os 25 por cento de ações concentrados na angolana Unitel, gerida pela empresária Isabel dos Santos, considerado o ativo mais importante da holding. Para analistas, a disputa traduz a importância de Angola no xadrez de negócios em África.
A decisão de alienar a parte que tem na empresa angolana Unitel, de Isabel dos Santos, surge depois do acordo de fusão entre a PT - Portugal Telecom e a brasileira Oi. Zeinal Bava, o gestor da operadora, anunciou recentemente, em comunicado, que iniciou o processo de venda da sua posição na Áfricatel – holding com 25 por cento na empresa gerida pela filha do Presidente de Angola.
A solução para o braço-de-ferro com os acionistas angolanos?
De acordo com a imprensa portuguesa, Zeinal Bava tenta assim resolver o braço-de-ferro de forma coordenada para acabar com o diferendo com os acionistas angolanos. Além da disputa sobre dividendos de cerca de 245 milhões de euros que a Unitel não paga desde 2012, acresce que, em abril deste ano, os acionistas angolanos expressaram interesse em exercer direito de preferência na aquisição dos 25 por cento da PT.
Os angolanos alegaram que a fusão da PT com a Oi lhes dava esse direito. O diferendo é analisado pelo professor universitário Luís Nazaré, que não duvida do interesse de Isabel dos Santos em preservar a sua influência externa.
“Isso é normal e legítimo”, começa por afirmar, explicando que Isabel dos Santos “tem uma influência já grande no tecido empresarial de Portugal, em diversos sectores de actividade e, portanto, do seu lado há também o raciocínio de portefólio em relação ao conjunto de interesses e investimentos que tem vindo a desenvolver”. Por isso, considera o docente universitário, “uma coisa está certamente relacionada com a outra”.
A Unitel é o ativo mais valioso da Africatel, onde o fundo de investimentos Hellios, de origem nigeriana, também detém os restantes 25 por cento, através da sociedade angolana Samba Luxco. A decisão de venda da posição na holding africana abre caminho para a resolução dos diferendos através de um processo de arbitragem e não pelos tribunais.
Segundo Luís Nazaré, “de um modo geral, há toda a vantagem e as partes têm isso assumido numa resolução rápida, o que é bom para toda a gente”. “É bom para os próprios acionistas, para a estabilidade das estruturas organizacionais e para o mercado”, especifica, esperando que “neste quadro de diferendo, as coisas se resolvam, seja de que maneira for, mas rapidamente”.
O potencial do mercado angolano
O professor universitário lembra que a PT já vinha reconfigurando há já algum tempo a sua presença em diferentes geografias, sublinhando que “houve uma reformulação da sua estratégia em termos de presença internacional e a PT, como é público e notório, diminuiu a sua presença ou desapareceu mesmo de alguns mercados em África”.
“Angola não foge a esta linha, o que se deve, em larga medida, à estratégia global que os acionistas da PT decidiram encetar, concentrando as suas atenções na operação brasileira”, explica. Na visão de Luis Nazaré, o negócio que resultou na criação da Áfricatel continua a ser aliciante, porque Angola é um mercado promissor “e tem todas as condições para ter nas telecomunicações um mercado vibrante”.
Por sua vez, a advogada Teresa Boino, que orienta empresários portugueses com interesses em Angola, considera que, apesar destes diferendos, o mercado angolano continua a despertar atenção.
“Não creio que esta questão venha a abalar de maneira séria as intenções de investimento dos empresários portugueses em Angola. Os empresários estão numa fase em que precisam bastante de internacionalizar as suas empresas. Angola continua a ser uma excelente aposta, um excelente mercado, com muitas províncias ainda a desenvolver”, considera.