ONU pede acesso à alegada vala comum em Moçambique
4 de maio de 2016O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas, após receber informação sobre a existência da alegada vala, entrou em contacto com as autoridades moçambicanas para aceder à zona. Ainda assim, a ONU reconheceu à agência de notícias Lusa que ainda não foi possível verificar a veracidade dos relatos devido ao difícil acesso à zona.
Um grupo de jornalistas, incluindo o repórter da Deutsche Welle, deslocou-se ao local para apurar os factos. Sabe-se agora que a alegada vala comum não está no distrito de Gorongosa como anteriormente se referenciava. Os corpos estão no distrito de Macossa numa linha de fronteira entre Gorongosa, província de Sofala e Macossa, na província de Manica.
O administrador de Gorongosa, Manuel Jamaca, negou ir até ao local, que se situa a dois quilómetros de distância do lugar onde estaria na altura e proibiu a circulação das viaturas que levaram quinze jornalistas da Beira para apurar a veracidade na Gorongosa.
"É preciso interagir com o Governo de Manica para convidar a vocês, jornalistas, para irem ao território fazer o trabalho devidamente. Isso tem de ser autorizado. Quanto à vala comum no distrito da Gorongosa, respondo negativamente, não existe", garante o administrador.
Desta forma, apenas sete jornalistas de órgãos independentes incluindo o correspondente da DW África, percorreram a pé mais de seis quilómetros e observaram corpos espalhados nas machambas.
Dois camponeses confirmaram a existência da vala comum num local mais distante, onde os jornalistas não tiveram acesso. As fontes dizem ter abandonado as suas machambas depois de terem visto alguns corpos ao abandono depositados na calada da noite.
Human Rights Watch exige que algo seja feito
A organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) pediu esta quarta-feira (04.05), em comunicado ao Governo moçambicano, que sejam identificados os corpos encontrados ao abandono no centro do país, e exigiu apuramento de responsabilidades.
Citada no comunicado, a analista da HRW para África, Zenaida Machado, afirma que Moçambique "deve lançar imediatamente uma investigação credível e transparente para determinar as identidades das vítimas encontradas, as causas da morte e quem é o responsável". É necessário atuar “urgentemente após as informações de uma vala comum e a descoberta de, pelo menos 15 corpos", lê-se ainda no documento.
A ONG recorda que “jornalistas viram e fotografaram corpos abandonados no mato perto de uma vala comum, já denunciada por camponeses, junto do posto administrativo de Canda, no distrito da Gorongosa, na zona centro do país”.
“Alguns dos corpos eram recentes, enquanto outros mostravam sinais visíveis de decomposição. Sinais de violência eram evidentes nalguns corpos e alguns tinham as mãos atadas. Devido à presença das forças de segurança, os jornalistas não conseguiram chegar à vala comum, identificada pelos residentes", lê-se no comunicado..
Mesmo com os relatos dos jornalistas, a Polícia da República de Moçambique disse não encontrar a evidência dos corpos e negou mesmo o relato dos jornalistas. O régulo da região de Nhaduwe negou redondamente perante jornalistas a existência da vala no seu povoado.
Os factos, trazidos pelos jornalistas, obrigaram uma deslocação de emergência ao local do administrador de Gorongosa com a missão de informar as entidades superiores.
A HRW nota que a polícia já anunciou uma investigação, embora não tenham sido enviados elementos ao terreno.