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Odisseia de ativistas angolanos ainda não chegou ao fim

Cristina Krippahl23 de julho de 2015

Ativistas ainda desconhecem se a sua detenção temporária na cadeia de Calomboloca, na quarta-feira (22.07), terá consequências. Mas afirmam que as tentativas de intimidação do Governo angolano são um "tiro pela culatra".

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Foto: picture-alliance/dpa/PAULO NOVAIS

Ativistas de várias organizações não-governamentais (ONG) angolanas tentaram falar com os chamados "15 + 1", jovens presos há algumas semanas por alegadamente planearem um golpe de Estado. Mas em vez de falarem com os jovens, acabaram detidos no estabelecimento prisional durante sete horas e os seus pertences foram apreendidos. Entretanto voltaram a ser libertados, mas a sua odisseia ainda não acabou. Só na sexta-feira (24.07) serão informados pela Procuradoria se o caso terá sequelas.

Rafael Morais, coordenador da SOS Habitat, conta que se dirigiu ao estabelecimento prisional de Calomboloca, no Bengo, na companhia de um colega da sua associação e de dois da OMUNGA, assim como do jornalista e correspondente da DW Nelson Sul D'Angola. Pretendiam visitar os jovens detidos há semanas sob a acusação de planearem um golpe de Estado, um caso que tem suscitado a indignação nacional e internacional. Porém, a visita não foi autorizada.

Já fora do estabelecimento, o jornalista Nelson Sul D'Angola tirou algumas fotos, pretendendo, em seguida, entrevistar os ativistas e alguns familiares dos detidos. Mas um oficial de segurança interpelou o grupo. "Mandaram-nos entrar, todos nós, incluindo o motorista. Todos os nossos bens foram retidos. A viatura também teve que ser retirada, do local onde estava, para o interior do estabelecimento. Lá dentro fomos sempre escoltados, até para ir à casa de banho. Fomos submetidos a uma revista total, e a viatura também foi revistada", descreve Rafael Morais.

Transferidos para esquadra da polícia

Só passadas sete horas, os detidos conseguiram a transferência para uma esquadra de polícia, onde foram libertados dez minutos após a chegada. Rafael Morais indigna-se com o tratamento que receberam. "Acreditamos que os serviços prisionais não têm competência para poder deter um cidadão. Tão logo eles identificaram que houve um crime, chamariam a polícia. Iríamos para a polícia, que, claro, tem homens especializados para tratar do caso", conta o ativista.

Rui Ferreira
José Patrocínio, coordenador da organização angolana OMUNGAFoto: DW/Sul d'Angola

Rafael Morais diz que "não havia nenhum motivo para deter tanta gente, incluindo um motorista, mesmo que o jornalista Nelson Sul D'Angola tivesse cometido alguma infração ao tirar fotografias".

Por seu lado, o correspondente da DW diz que não há nenhuma lei que o proíba de tirar fotos, excpeto a "que diz que as instituições de segurança, como por exemplo, os serviços secretos, os órgãos das Forças Armadas, quartéis-generais e a polícia não permitem a captura de imagens." Não é o caso de um estabelecimento prisional, lembra o jornalista. "O que eles alegam é que para tirar fotos eu devia ter pedido autorização. Mas eu disse: pedir autorização, só se eu pretendesse realizar o trabalho no interior".

Para Nelson Sul D'Angola, a detenção, aliada à apreensão dos seus instrumentos de trabalho, como telemóvel e câmara fotográfica, são mais um ataque à liberdade de imprensa.

Manifestação a 29 de julho

José Patrocínio, coordenador da ONG angolana OMUNGA, acredita que há mais razões que levam às reacções excessivas do poder nos casos dos jovens presos e dos ativistas temporariamente detidos.

Por um lado, trata-se de enviar um recado a quem se presta a protestar contra o Governo, algo que classifica de "tiro pela culatra", pois está agendada já uma nova manifestação anti-governo para o dia 29 de julho. O dirigente refere que "tem havido uma reacção muito grande de indignação, de protesto, de solidariedade, vinda de pessoas que, possivelmente, antes disto acontecer, não teriam tomado posições. Quer dizer, em vez de estar a trazer o medo, está a trazer indignação e protesto".

Odisseia de ativistas angolanos ainda não chegou ao fim

Por outro lado, trata-se também de distrair as pessoas, considera Patrocínio. "Neste momento, obviamente, existe tanto assunto para discutir. É o caso das autarquias, o caso de Cabinda, a questão das relações e dos acordos com a China, onde ninguém sabe o que foi feito. Existem tantos assuntos que era necessário distrair as atenções".

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