Observador irlandês satisfeito com eleições na Guiné-Bissau
27 de março de 2012Costuma dizer-se que depois da tempestade vem a bonança. Mas na Guiné-Bissau é ao contrário. A chuva de acusações começou logo após a divulgação dos resultados das eleições presidenciais antecipadas, em 18.03.
Cinco candidatos - Kumba Ialá, Serifo Nhamadjo, Henrique Rosa, Afonso Té e Serifo Baldé - consideram que o escrutínio na Guiné-Bissau foi fraudulento e afirmam que não vão reconhecer qualquer resultado.
Recorde-se que Carlos Gomes Júnior, até agora primeiro-ministro e candidato apoiado pelo partido no poder - o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) - venceu a primeira volta com quase 49% dos votos. Em segundo lugar ficou Kumba Ialá, apoiado pelo PRS (Partido para a Renovação Social), com cerca de 23%.
Este contesta os resultados, afirmando ter provas de fraude, referindo-se a casos em que um mesmo cartão eleitoral teria sido usado por várias pessoas, configurando sufrágio fraudulento.
Observadores internacionais contestam acusações
No entanto, a missão de dez observadores internacionais que esteve no terreno considera que as eleições foram livres e transparentes. O chefe da missão, o deputado irlandês Ian Paisley Junior, confia no trabalho da sua equipa e diz que gostava de conhecer o teor das acusações.
"O que penso dessas acusações é que devem, seguramente, ser investigadas. O que posso dizer é que a minha equipa de observadores, que é de longe a maior equipa de observadores de sempre na África Ocidental, não viu qualquer prática corrupta enquanto estivemos nas assembleias de voto", afirmou Paisley Junior à DW África, acrescentando ter ficado "satisfeito com algumas práticas" por estas terem se mostrado "transparentes e justas".
Kumba Ialá, o segundo colocado, acusou a missão de observadores internacionais de não conhecer a fundo toda a Guiné-Bissau. No entanto, o chefe da missão, Ian Paisley Junior, diz que a missão conseguiu cobrir a maior parte do país.
"Tivemos uma equipa de duas pessoas em cada uma das regiões da Guiné-Bissau. O único local que não pudemos visitar foram as ilhas", descreveu. Foi o único lugar onde a nossa equipa não pode ir porque o avião que íamos utilizar avariou. Observamos junto à fronteira com o Senegal, observamos o máximo possível de leste a oeste. Posso dizer que a nossa equipa de observadores estava muito bem equipada", explicou.
Participação na segunda volta
Tanto Carlos Gomes Júnior como Kumba Ialá estão qualificados para a segunda volta das presidenciais, que deverá ter lugar no dia 22.04. Contudo, Kumba Ialá afirmou que não irá disputar a segunda volta, por não reconhecer os resultados da primeira.
Face a este impasse, Ian Paisley Júnior apelou ao sentido de responsabilidade dos políticos guineenses. "Encorajo qualquer político, incluindo Kumba Ialá, para utilizar o processo eleitoral democrático. Haverá uma segunda volta e se ele é o candidato a desafiar, ele deveria participar com confiança no que acredita. (O boicote) poderia desafiar os próprios fundamentos do Estado", alertou o chefe da missão de observaodres internacionais.
A missão de observadores da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), admite a existência de falhas durante o processo eleitoral, mas considera que decorreu de acordo com os critérios internacionais.
A agitar ainda mais o clima em Bissau, recorde-se que Zamora Induta, antigo chefe de Estado Maior General das Forças Armadas refugiou-se, na semana passada, na reapresentação da União Europeia na capital guineense. O que aconteceu na sequência do assassinado, no dia eleitoral, de Samba Djaló, ex-chefe das informações militares.
Autora: Glória Sousa
Edição: Cris Vieira / Renate Krieger