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O que diz a imprensa alemã sobre as eleições em Angola?

29 de agosto de 2022

A DW África fez um apanhado do que foi notícia na imprensa alemã sobre as eleições em Angola.

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Apoiante da UNITA em Luanda no dia das eleições gerais angolanas
Foto: John Wessels/AFP

O que se supunha "Um novo amanhecer após a 'era Santos'" tornou-se "João Lourenço ganha eleições em Angola". Foi com estes dois títulos que um dos principais periódicos alemães, o "Frankfurter Allgemeiner Zeitung", destacou, em dois artigos, as eleições gerais de 24 de agosto em Angola.

Fundado em 1949, o FAZ é um dos periódicos alemães de circulação nacional mais tradicionais e, nos últimos dias, reportou frequentemente sobre as eleições em Angola. Com particular destaque, observou como Angola – um país rico em petróleo e diamantes, mas ainda refém da pobreza – poderia ter tido agora uma alternância de poder, que acabou por não acontecer.

A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) de Angola anunciou esta segunda-feira (29.08) a vitória do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) nas eleições gerais. O cabeça de lista do partido, João Lourenço, foi reeleito como Presidente da República. Esperança da Costa, a segunda da lista do MPLA, ocupará o cargo de vice-Presidente.

Jovem apoiante do MPLA em Luanda
MPLA venceu com cerca de 51% dos votos, segundo os dados definitivos divulgados pela CNEFoto: Siphiwe Sibeko/REUTERS

"MPLA, quase meio século no poder"

"Durante quase meio século o 'Movimento Popular de Libertação de Angola' (MPLA) governou Angola e, nas eleições desta semana, voltou a ganhar a maioria", escreveu o FAZ.

"Uma mudança de poder poderia ter tido consequências nas relações com a Rússia, o maior fornecedor de armas do país. O líder da oposição Adalberto Costa Júnior critica a guerra na Ucrânia. O Governo angolano absteve-se numa votação na Assembleia Geral das Nações Unidas."

O periódico destacou a rapidez com que os resultados eleitorais foram publicados este ano: "Já na quinta-feira, um dia após o escrutínio, mais de 80% dos boletins de voto tinham sido processados".

"Nas últimas eleições gerais, de 2017, foram necessárias duas semanas para se obter um resultado. A pressa pode também estar relacionada com o funeral de Estado do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, no domingo (28.08)", acrescentou.

Angola, Luanda | Trauerfeiern für José Eduardo dos Santos
Imagem de José Eduardo dos Santos durante o seu funeralFoto: António Cascais/DW

O funeral de Eduardo dos Santos

A chegada do corpo de José Eduardo dos Santos a Angola pouco antes das eleições e o funeral do antigo chefe de Estado no domingo também foi tema de destaque na página online da revista "Der Spiegel", uma dos mais lidas na Alemanha.

Com o título "Do exílio espanhol de volta a Angola", o periódico destacou nesta segunda-feira (29.08) que as exéquias de JES foram ensombradas pela disputa sobre o vencedor das eleições gerais de quarta-feira passado. É que mesmo quando 97% dos votos contados já davam vitória ao MPLA, com 51,07 %, o maior partido da oposição, a UNITA, exigia uma verificação independente.

Sobre os resultados eleitorais, o canal público "Tagesschau", que tem um dos noticiários mais antigos na televisão alemã, salientou, num artigo online, que, pela primeira vez desde o fim da guerra civil em Angola, as coisas poderiam ficar "apertadas" para o MPLA. 

"Uma mudança de poder em Angola parecia possível, mas o partido no poder ganhou novamente", lê-se na página. O MPLA, partido que foi no passado apoiado pelo socialismo soviético, "governa o país há quase 50 anos, e o seu maior adversário, a UNITA, não teve qualquer hipótese em todas as rondas eleitorais até agora", escreveram.

Jovem em protesto contra a corrupção em Luanda (foto de arquivo)
Sociedade civil pede maior empenho na luta contra a corrupção em AngolaFoto: Manuel Luamba/DW

MPLA - cada vez mais "rural"

"MPLA e UNITA - parece que a guerra da independência contra Portugal ainda está em curso [...] num país que é independente desde 1975. Mas Angola é também um país onde prevaleceu a guerra civil até 2002 e que, durante muitos anos, foi - e em grande medida ainda é - um símbolo de corrupção e nepotismo", acrescentou o veículo alemão.

Por outro lado, o "Tagesschau" alertou também para o papel que os jovens desempenham nestas eleições angolanas, que estão a ser acompanhadas de contestação nas ruas. "Parece que os jovens angolanos desempenharão o papel decisivo na eleição. Diz-se que seus valores e crenças são dramaticamente diferentes dos dos que estão no poder."

Já a destacar a queda do apoio ao MPLA na cidades, o jornal alemão de esquerda liberal TAZ escreveu num artigo publicado esta segunda-feira que existe uma tendência crescente dos jovens angolanos nas grandes cidades de não apoiarem mais o MPLA. 

Ainda segundo este órgão, Angola está a reproduzir uma tendência de outros países da região, como a África do Sul e o Zimbabué, onde os antigos movimentos de libertação no poder se estão a tornar cada vez mais partidos rurais. "As grandes cidades, com as suas populações largamente jovens, desempregadas e descontentes, que experimentam poucas oportunidades de progresso e muita corrupção na sua vida quotidiana, estão a tornar-se bastiões da oposição", lê-se.

Tainã Mansani Jornalista multimédia