O comboio chinês de Adis Abeba para o Djibuti
Desde o início de 2018, um comboio chinês está a levar pessoas e mercadorias da Etiópia para o porto do Mar Vermelho no Djibuti. A DW África fez esta viagem a partir de Adis Abeba.
O toque chinês
Nos arredores da capital etíope, a estação ferroviária marca o início da nova linha de Adis Abeba para o Djibuti, transportando passageiros desde janeiro de 2018. É uma joint venture entre a empresa Ethiopian Djibouti Railway (EDR) e os chineses, que construíram e financiaram em grande parte os 4 mil milhões de dólares do projeto.
Normas e regulamentação
Guardas de plataforma etíopes com coletes e chapéus vermelhos recebem passageiros para o comboio das 8 horas para o Djibuti. Os chineses estão a operar a linha durante os seus primeiros seis anos, daí o ambiente de regularidade e conformidade, pelo menos no início da jornada. O condutor do comboio é chinês, assim como os trabalhadores da manutenção.
Deixando a cidade para trás
Logo a cidade é substituída por campos verdes, pequenas cabanas em aldeias e gado caminhando ao lado da linha férrea. "A quantidade de gado ao longo da rota é a principal razão pela qual tivemos que desacelerar o comboio", disse Wang Hugue, gerente de operações da China. "No começo, havia alguns problemas com os agricultores". Os agricultores agora são compensados pelo gado atingido pelo comboio.
Viagem confortável
"Antes, era muito difícil viajar de autocarro e era preciso fazer trocas e passar a noite [no autocarro]. Demorou cerca de um dia e meio para ir de Adis Abeba ao Djibuti", diz Linda, uma professora de inglês djibutiana que retorna de Adis Abeba. A viagem de comboio leva 12 horas, mas pelo menos é confortável.
Henna para passar o tempo
Atualmente não são muitos os que viajam neste comboio e os passageiros têm muito espaço para atividades como a aplicação de tatuagens de henna. Mas a prioridade desta linha é o transporte de cargas. Quatro comboios circulam todos os dias - dois viajando para um sentido, dois para o outro - cada um leva 106 contentores de mercadorias.
"Nada como o passado"
A nova rota de comboio é paralela à antiga ferrovia imperial, construída no início do século XX. "Se houvesse uma escolha, eu pegaria o comboio antigo", diz Julius, um etíope que ia visitar uma tia no Djibuti. "Então víamos todas as cidades diferentes por onde parava, ouvia as diferentes línguas, culturas e povos desta região. Este comboio apenas passa direto por tudo."
O comboio ganha vida
Depois de parar na cidade de Dire Dawa, cerca de meio caminho ao longo da rota de 728 km, a carruagem encheu-se com passageiros tagarelando numa mistura de amárico, somali e francês (o Djibuti era uma colónia francesa), enquanto partilhavam a comida. Até a música que entra na carruagem parece tornar-se mais viva à medida que a jornada continua.
Hora de khat
"Nós tivemos que nos adaptar", diz a operadora de comboios Hugue. Os passageiros carregam khat, a planta levemente narcótica mastigada em todo o Corno de África como um estimulante, que é proibido e classificado como uma droga na China. "Inicialmente nós não permitimos, mas a empresa disse que faz parte da cultura, e nós percebemos que não podemos destruir tradições e precisamos respeitá-las."
No caminho certo
A 200 quilómetros do destino final, o sol começa a pôr-se no deserto e o silêncio começa nas carruagens. Observadores políticos acreditam que a linha férrea e a liberdade de movimento e comércio económico que a acompanha são evidência de uma crescente paz e cooperação no Corno de África.