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"Não é diabolizar Angola, 36 anos é mesmo demais"

João Carlos (Lisboa)29 de outubro de 2015

Realizou-se em Lisboa uma nova vigília para pedir "liberdade, já!" para os 15 ativistas angolanos detidos desde junho, acusados de prepararem uma rebelião. Manifestantes refutam críticas de "ingerência".

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Vigília em Lisboa no dia 28 de outubroFoto: DW/J. Carlos

"Liberdade, já! Liberdade, já!". As palavras de ordem pela libertação dos 15 jovens ativistas angolanos acusados de prepararem uma rebelião voltaram-se a ouvir, esta quarta-feira (29.10), no Rossio, no centro da capital portuguesa.

A praça voltou a ser palco de mais uma vigília, a par de outra iniciativa do género realizada na cidade do Porto, a norte de Portugal. Os manifestantes insistem que é preciso continuar a pressionar o Governo de José Eduardo dos Santos, em nome do respeito pelos direitos humanos em Angola.

Alguns dos manifestantes abordados pela DW contrariam a recente afirmação proferida pelo embaixador de Angola em Lisboa, José Marcos Barrica, segundo o qual está em curso em Portugal "uma campanha para denegrir a imagem de Angola e abafar as suas conquistas alcançadas ao longo dos 40 anos de independência". O diplomata, que se encontra agora em Luanda, disse na sexta-feira passada que Portugal está a usar o cidadão Luaty Beirão apenas como pretexto para diabolizar Angola.

Petition von Amnesty International Portugal für die Freilassung von angolanische Aktivisten
Isabel Lafayette e Tininha FortunaFoto: DW/J. Carlos

Uma das pessoas que contesta tal visão é a manifestante Isabel Lafayette: "Acho que o Governo tem de passar a imagem democrática que nos prometeu na altura da independência." Segundo outra manifestante, Tininha Fortuna, não se pode "governar bem em consciência durante tantos anos. 36 anos é demais. Angola vai mudar e tem de mudar. Temos de acabar com a repressão."

Do serviço de imprensa da Embaixada de Angola em Lisboa não foi possível obter uma reação oficial, devido à ausência de Marcos Barrica.

Críticas iguais para todos

O Jornal de Angola voltou a questionar a parceria estratégica entre os dois países depois de o embaixador português em Luanda visitar Luaty Beirão, a 22 de outubro, no 32º dia de greve de fome do ativista luso-angolano em protesto contra o excesso de prisão preventiva.

"O diplomata português acaba de legitimar toda a ingerência personificada nas manifestações em Portugal. O Governo português, depois de tanto tempo, volta a cair na asneira de se pôr do lado errado", lê-se no editorial do diário de 25 de outubro. "Por ignorância e despeito das elites portuguesas, concorrência entre elas próprias e inveja de poderes externos, a parceria estratégica que se começou a traçar com Portugal e que era uma boa solução para o futuro de Portugal, foi por água-abaixo."

"Não é diabolizar Angola, 36 anos é mesmo demais"

Paulo Baldaia, diretor da rádio portuguesa TSF e comentador político, refere, no entanto, que "Portugal olha para Angola como olha para outros países."

"Basta que o Jornal de Angola ou o embaixador angolano em Portugal olhem para o que a comunicação social portuguesa ou as entidades portuguesas dizem quando acontece algo similar noutro país qualquer. Fazem da mesma maneira", comenta Baldaia.

"Quando as coisas não correm bem em Angola e quando não correm bem em Portugal, obviamente que é muito mais difícil manter boas relações."

Amnistia Internacional recebida em Embaixada angolana

Na manhã desta quarta-feira, a Amnistia Internacional entregou na Embaixada de Angola em Lisboa a petição com mais de 38 mil assinaturas a pedir a libertação imediata e incondicional de todos os ativistas políticos presos, acusados de preparação de um golpe de Estado contra o Presidente José Eduardo dos Santos.

A equipa encabeçada por Antónia Barradas, responsável das relações internacionais e política externa da Amnistia, foi recebida pela ministra conselheira, Isabel Godinho, e três outros diplomatas da Embaixada.

Petition von Amnesty International Portugal für die Freilassung von angolanische Aktivisten
Amnistia Internacional entregou petições na Embaixada de Angola em PortugalFoto: DW/J. Carlos

A Amnistia também entregou uma petição em defesa de Marcos Mavungo, condenado a seis anos de prisão por crime contra a segurança de Estado por ter tentado organizar uma manifestação pacífica em Cabinda, além de abordar a campanha a favor do ativista e jornalista angolano, Rafael Marques.

Marques está em Lisboa e encontrou-se, na terça-feira, com a líder do partido português Bloco de Esquerda. Catarina Martins apelou "a que os olhos do mundo não se desviem de Angola enquanto não forem libertados os jovens detidos por lerem um livro."

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