Nyusi na Rússia: Que esperar desta visita?
20 de agosto de 2019O chefe de Estado de Moçambique, Filipe Nyusi, iniciou esta terça-feira (20.08), uma visita de trabalho à Rússia, a convite do seu homólogo, Vladimir Putin, com quem vai reunir-se.
Analistas moçambicanos ouvidos pela DW África acreditam que este é um momento histórico, do qual o país sai a ganhar se souber atrair os investimentos russos, para agricultura e exploração de gás e petróleo.
A ida de Nyusi a Moscovo é a primeira deslocação de um chefe de Estado moçambicano à Rússia desde a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 1991, sendo que o último estadista moçambicano que esteve antes em Moscovo foi Joaquim Chissano, em 1987.
Fórum Empresarial Moçambique-Rússia
Nyusi vai estar na Rússia até próxima sexta-feira (23.08.). O Presidente moçambicano vai manter conversações oficiais com Putin, participar na abertura do Fórum Empresarial Moçambique-Rússia e reunir-se com a comunidade moçambicana naquele país.
Para o jornalista moçambicano, Boaventura Mandlate esta visita abre várias perspetivas económicas para o país, nas áreas de agricultura e exploração de recursos minerais.
"Eu vejo nesta visita a possibilidade de emergência de forma muito clara da Rússia na exploração dos hidrocarbonetos (gás e petróleo). Mas também há muito que neste país se explora, como agricultura que de certeza pode interessar a Rússia, neste momento em que as potencias mundiais estão em busca de matérias primas para sua indústrias”, considera Boaventura Mandlate para quem "o país poderá vir a ganhar se conseguir atrair o empresariado russo a investir em Moçambique nas diferentes áreas”.
Rússia de "olhos" no gás e petróleo moçambicanos
Na edição desta terça-feira (20.08.), o jornal Notícias de Moçambique escreve que a petrolífera estatal, Rosneft, prepara-se para se instalar em Moçambique, através do consórcio ExxonMobil, no quadro da produção de gás natural liquefeito na bacia do Rovuma.
O Embaixador Russo em Maputo, Alexander Surikov, disse em entrevista ao Notícias que a instalação da petrolífera russa na Bacia do Rovuma aguarda apenas pela decisão final de investimento por parte do consórcio.
A Rússia também manifesta o desejo de aumentar o volume de investimentos em Moçambique, de acordo com o embaixador russo, em entrevista ao matutino Notícias.
Trocas comerciais aumentam
O diplomata refere que o comércio bilateral aumentou 25 por cento em 2018 em comparação com o ano de 2017, totalizando 115 milhões de dólares.
Nos primeiros 3 meses deste ano as trocas comerciais entre Moçambique e Rússia duplicaram comparativamente a igual período de 2018, tendo passado de 11,2 milhões para 24,3 milhões de dólares americanos.
O jornalista económico Boaventura Mandlate entende que o país precisa de fazer mais para captação de investimento estrangeiro, "deve resolver o problema antigo do ambiente de negócios. É preciso que se criem facilidades para a realização de negócios que é um problema muito sério no nosso país”.
Cooperação económica e política
A visita de Filipe Nyusi a Moscovo é também vista como uma reativação das relações políticas entre os dois países, de acordo com o analista Fernando Gonçalves.
"Rússia é um parceiro de longa data para Moçambique desde os tempos da União Soviética. Havia uma vasta gama de instrumentos de cooperação entre os dois países que foram afetados com a dissolução da União Soviética”, destaca Gonçalves acreditando que "penso que há uma nova abertura agora para o relançamento dessa cooperação”.
Que impactos politicos e diplomáticos esta visita pode ter? Questionamos ao analista Fernando Gonçalves, tendo respondido que, "politicamente nós sabemos que a Rússia é uma das grandes potencias mundiais. É verdade que tem relações estremecidas com o ocidente, mas Moçambique não faz parte desta equação” considera o analista acrescentando que "os dois países cooperam numa base em que ambos tiram benefícios. Portanto, não vejo nenhum problema nesta cooperação”.
A cooperacão entre Moçambique e Rússia existe há mais de 40 anos.