Novo poço de petróleo "não trará nada" para angolanos
20 de maio de 2019O novo poço de petróleo leve em águas profundas no Bloco 15/06, em Ndungu, terá uma capacidade de 250 milhões de barris e poderá ser explorado comercialmente, anunciou a petrolífera italiana ENI na semana passada.
A confirmar-se, a descoberta poderá significar mais receitas para o Estado angolano. O petróleo é o principal produto de exportação de Angola. Segundos dados recentes, o país exportou, no primeiro trimestre deste ano, mais de 119 milhões de barris. A petrolífera estatal Sonangol e as suas associadas arrecadaram uma receita bruta de mais de 6,6 mil milhões de euros.
Mas a população continua à espera de melhorias nas suas vidas: "O povo está a passar por dificuldades", diz Augusto Nhami, residente no Cazenga, o bairro mais populoso de Luanda.
A taxa de desemprego em Angola ronda os 28,8%, segundo o Instituto Nacional de Estatística. Mais de metade dos angolanos vive em situação de pobreza, de acordo com os dados do Índice de Pobreza Multidimensional (IPM).
Produzir petróleo para dar aos outros
O analista angolano Agostinho Sicatu não acredita que a descoberta do novo poço de petróleo mude este cenário.
"Esse poço de petróleo descoberto não vai significar nada na vida dos cidadãos angolanos", afirma Sicatu em entrevista à DW África. "Repare que Angola é o segundo maior produtor de petróleo em África, depois da Nigéria, mas olhe para a forma como o próprio cidadão angolano vive."
Um dos problemas com que Angola se debate é a falta de refinarias, acrescenta o analista. Apesar de ser um grande produtor de crude, estima-se que o país tem de importar 80% do petróleo refinado que necessita. E isso traz desvantagens para os angolanos, conclui Sicatu.
"Se um país só produz e não refina, então produz para dar aos outros, comprando o mesmo produto, como quem não produz", afirma.
"Para os angolanos, [o novo poço de petróleo] não significa nada. Muito pelo contrário, aumentará ainda mais a pobreza, porque muitos gananciosos, a partir do momento em que se descobriu esse poço, estão já atentos para encontrar uma forma de se enriquecerem", opina Sicatu.