Nova milícia reacende guerra na RDC
3 de julho de 2012A esperança era grande: Após 15 anos de guerra no leste da República Democrática do Congo, a situação na região era relativamente calma. As eleições em novembro de 2011 decorreram de forma bastante pacífica. Muitos grupos rebeldes que viviam na selva pousaram as armas e acabaram por ser integrados no exército. As relações com os países vizinhos Ruanda e Uganda tinham melhorado. Até que, em abril, o Tribunal Penal Internacional emitiu um mandato de captura contra o senhor da guerra Bosco Ntaganda, que formou uma nova milícia, o M23.
A multidão é cada vez maior no campo de futebol de Minova, uma pequena localidade no Lago Kivu, no leste da República Democrática do Congo. De todas as direções chegam deslocados: mulheres, crianças, idosos. Têm fome, estão desesperados e traumatizados porque de onde vêm os rebeldes travam uma guerra brutal.
Em Minova, o Programa Alimentar Mundial (PAM) distribui biscoitos energéticos. Mil calorias por biscoito, um quilo por pessoa. Deve chegar para pelo menos uma semana. "Atualmente, há quatro grupos armados na nossa aldeia que lutam entre si. As pessoas fugiram porque a milícia local, Raia Mutomboki, luta contra as Forças Democráticas de Libertação de Ruanda (FDLR), a milícia hutu ruandesa. As FDLR, por sua vez, vingam-se da população. Eles queimam as nossas casas, disparam contra as pessoas e roubam-nos," diz Mashimango Meshi, porta-voz dos deslocados. Ele vem de Ziralo, uma povoação a 80 quilômetros de distância, e é o pastor da paróquia.
Tropas em movimento
Na selva reina a anarquia, porque quase todas as tropas do exército congolês se retiraram do interior e mudaram-se para as montanhas vulcânicas de Virunga, na fronteira com o Ruanda. Agora, os rebeldes avançam para o interior.
Nas montanhas de Virunga, por sua vez, as tropas governamentais envolvem-se diariamente em tiroteios com uma nova milícia, o Movimento do 23 de Março (M23), liderada por Bosco Ntaganda. O senhor da guerra é alvo de um mandato de captura emitido pelo Tribunal Penal Internacional, em Haia, e já integrou vários grupos rebeldes, entre os quais o denominado Congresso para a Defesa do Povo (CNDP), que em 2009 foi integrado ao exército regular do Congo. Mas em Abril, Ntaganda desertou com uma parte das suas tropas e desde então está em fuga.
Kitchanga, uma pequena cidade nas montanhas, chegou a ser a sede do CNDP. Foi aqui que nasceram Ntaganda e os seus colaboradores. E foi aqui que, em abril, começou o motim dos combatentes do CNDP.
"As tropas que estavam aqui estacionadas pertenciam ao CNDP. Em abril, eles desertaram e começaram uma guerra contra o governo, a mando de Bosco Ntaganda, que estava com medo de ser extraditado para Haia. Muitos dos desertores livraram-se dos seus uniformes e infiltraram-se na nossa cidade em roupas civis. Muitos hutus e tutsis fugiram para o Ruanda. Não sabemos por quê. Mas para nós foi um sinal de que algo mal poderia acontecer aqui, de que todos podíamos morrer. A situação é confusa e difícil de entender", diz como relata Edmond Lwanda, dos serviços municipais locais.
Parece ser uma estratégia de Ntaganda: os rebeldes do M23 estão atualmente a infiltrar-se nas províncias do leste do Congo. E também procuram estabelecer alianças com outros grupos rebeldes. Juntos, querem derrotar o exército congolês.
Forças da ONU abrem corredor para refugiados
As forças de paz da ONU estão a tentar não interferir no conflito. A população está a fugir de todas estas lutas à volta das montanhas de Virunga, em Rutshuru. Muitas vezes, ouvem rumores de que haverá combates e começam a fugir. As nossas forças de paz procuram criar corredores para as pessoas poderem escapar para zonas seguras", explica Alexander Essome da missão da ONU no leste do Congo.
O Ruanda, país vizinho, parece ser parte do problema. Especialistas da ONU apresentaram, no Conselho de Segurança, em Nova Iorque, provas de que o Ruanda forneceu armas ao M23 de Ntaganda. As relações entre os dois países mergulharam mais uma vez em profunda crise.
Autores: Simone Schlindwein/Madalena Sampaio
Edição: Francis França/António Rocha