Nova derrota na Unesco para o presidente Obiang da Guiné-Equatorial
4 de outubro de 2011A Unesco marcou para o primeiro semestre do próximo ano a sua decisão concernente à entrega ou não do prémio em nome do presidente equato-guineense Teodoro Obiang Nguema, considerado incompatível com os valores da agência onusiana pelos defensores dos direitos do Homem.
Sem consenso sobre a atribuição desse prémio, o executivo da Unesco, composto por 58 países membros, decidiu finalmente por unanimidade na terça feira (04.10.) "transferir o assunto para a sua próxima sessão, na primavera de 2012", indicou uma das fontes da Unesco.
Ocidentais e a UNESCO radicalmente contra posição de alguns países africanos
Os países ocidentais e a diretora da Unesco, Irina Bokova, estiveram radicalmente contra o pedido dos países africanos de finalmente ser entregue o prémio Teodoro Obiang Nguema, no valor de três milhões de dólares, criado em 2008 e destinado a "recompensar a pesquisa em ciências da vida".
O conselho executivo encarregou um grupo de trabalho para apresentar uma solução de fundo no próximo ano, mas que tenha em conta a posição expressa pela diretora da Unesco, que oficialmente exigiu na semana passada ao presidente Obiang para retirar o seu prémio por forma preservar a reputação da agência da ONU para a ciência, a cultura e a educação.
Recorde-se que já em Outubro do ano passado, depois de vários meses de polémica, o conselho executivo acabou por decidir que a entrega do prémio estava "suspensa" até que um consenso fosse obtido. Segundo os observadores isso é o mesmo que dizer “nunca este prémio será entregue”.
Mobilização internacional contra o prémio Obiang
O arcebispo sul-africano Desmond Tutu, o escritor nigeriano Wole Soyinka, ou a militante moçambicana Graça Machel, assinaram uma campanha contra o prémio Obiang, por considerarem que o mesmo é "um insulto aos africanos", enquanto várias ONG se mobilizaram para denunciar a violação dos direitos do homem e a corrupção praticadas pelo regime de Obiang que dirige com uma mão de ferro a Guiné-Equatorial desde 1979. Uma dessas ONG é a Associação Sherpa, que se empenha em fazer desaparecer o prémio.
Mas quais seriam as implicações para a UNESCO caso usasse os três milhões da Fundação Obiang?
Rachel Liinhard da Sherpa entrevistada pela DW deixou claro que “se a UNESCO aceitar este prémio terá muitas consequências, primeiro o dano seria porque ele é um ditador suspeito de corrupção que usa fundos pouco claros para financiar um prémio cientifico na UNESCO. Outra questão é que o próprio Obiang faz no país uma campanha de relações públicas, e caso se valide o prémio talvez espere ser bem visto pela comunidade internacional”.
Teodoro Obiang, aproveitou-se da sua presidência rotativa da União Africana, este ano, para conseguir a adoção de uma resolução pelos seus homólogos exigindo a entrega do prémio.
Para a Associação Sherpa, este apoio africano é também baseado na semelhança de governação, como afirma Rachel Liinhard: “existem diferentes opiniões sobre isso.Alguns paises concordam com a ditadura tais como Aly Bongo, presidente do Gabão, Sassou Nguesso do Congo Brazzaville ou o ditador dos Camarões, Paul Biya... Eles estão unidos, são como uma rede. Não é uma surpresa que alguns apoiem Obiang."
Obiang está a ser investigado pela justiça francesa
Mas o apoio de alguns países africanos a Obiang não avançou devido aos últimos desenvolvimentos do inquérito sobre "bens mal adquiridos" em França, no qual o chefe de Estado da Guiné-Equatorial faz parte dos três chefes de Estado visados e citados pela Associação Sherpa.
Os juízes realizam um inquérito desde dezembro de 2010 sobre as condições nas quais os três estadistas africanos adquiriram um importante património imobiliário e mobiliário em França a fim de determinar se essas compras têm a ver com a lavagem de dinheiro e desvio de fundos públicos.
Lembramos que a revista Forbes considera Obiang um dos presidentes mais ricos do mundo, com uma riqueza avaliada em cerca de 600 milhões de dólares.
Este pequeno país do Golfo da Guiné é o terceiro produtor de petróleo da África subsaariana, mas o essencial da sua população (menos de um milhão de habitantes) vive na pobreza extrema.
Autor: Nádia Issufo
Edição: António Rocha/Johannes Beck