Nobel da Economia alerta para perigo das dívidas em excesso
20 de novembro de 2019"Uma tendência inquietante em economias que descobrem grandes reservas de recursos naturais é o endividamento excessivo, porque vivem no conforto de que haverá dinheiro para pagar as dívidas", afirmou José Stiglitz, que foi também vice-presidente do Banco Mundial (BM).
O norte-americano Stiglitz falava sobre o tema "Moçambique e o futuro: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável", no âmbito do Fórum Económico Social de Moçambique (Mozefo), que se realiza esta quarta e quinta-feira (20 e 21.11) em Maputo.
A perspetiva de ganhos avultados torna os países detentores de recursos naturais sedutores para a banca internacional, declarou.
"Se os bancos ocidentais ou asiáticos acreditam que Moçambique terá condições de devolver empréstimos, porque têm muitos recursos naturais, é lógico que se sentirão seduzidos a emprestar o dinheiro e, muitas vezes, em condições lesivas para o país", assinalou Joseph Stiglitz.
Diversificação
O economista defendeu a diversificação da economia, tendo as receitas dos recursos naturais como catalisador, visando criar mais emprego e mais rendimento para as famílias.
"A atividade extrativa cria muito pouco emprego e é ilusório pensar de outra forma, pelo que o dinheiro proveniente desse setor deve estar ao serviço da economia", acrescentou.
Uma má gestão das receitas dos recursos naturais, prosseguiu, vai intensificar as desigualdades e as tensões sociais, porque os ganhos do setor extrativo serão aproveitados por uma pequena elite.
Por outro lado, o fluxo intensivo de moeda estrangeira, por conta dos investimentos na exploração dos recursos naturais, pode provocar desequilíbrios cambiais nocivos à capacidade exportadora de outros setores da economia, alertou José Stiglitz.
Fundo soberano
O Nobel da Economia de 2001 advogou a utilidade de um fundo soberano suportado pelas receitas dos recursos naturais, como um instrumento de investimento e de amortecimento de crises provocadas pela volatilidade dos preços dos recursos energéticos ou mesmo do banimento dos combustíveis fósseis em várias economias.
"Daqui a mais uns anos, Moçambique não poderá vender o seu carvão a algumas economias, porque já terão em implementação políticas anticombustíveis fósseis", frisou.
O FMI prevê que a dívida pública de Moçambique suba este ano para 108,8% do PIB, mantendo-se acima dos 100% do PIB até 2023, e recomenda que o financiamento do país seja baseado em donativos externos e empréstimos altamente concessionais, tendo em conta a sustentabilidade da dívida.
A agência de 'rating' Fitch retirou Moçambique da lista de países em incumprimento financeiro a 07 de novembro, atribuindo-lhe uma notação de CCC, o terceiro pior nível de análise, depois de alcançado um acordo com os portadores de títulos de dívida soberana.
Os títulos representam cerca de um terço do escândalo das dívidas ocultas do Estado de 2,2 mil milhões de dólares, contraídas pelo anterior Governo entre 2013 e 2014, num caso de corrupção e enriquecimento ilícito a ser julgado em Nova Iorque e que já levou à detenção de banqueiros internacionais e figuras ligadas ao poder moçambicano.