Nito Alves faz greve de fome na cadeia
1 de julho de 2015Manuel Nito Alves é um dos 15 ativistas detidos a 20 de junho em Luanda, acusados de crime de rebelião contra o Estado. Antes, ele já havia sido detido pelas autoridades angolanas. Em 2014, chegou a ser julgado - e absolvido - por insultos ao Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos.
Em entrevista à DW-África, o pai de Nito Alves, Fernando Baptista, diz discordar que os ativistas preparavam-se para fazer um golpe de Estado, confirma que seu filho não está a alimentar-se e que não consegue entrar em contacto com ele.
DW-África: Foi à cadeia para visitar o seu filho, Manuel Nito Alves. Que informações tem sobre a situção dele, neste momento?
Fernando Baptista: Ele está há três dias em greve de fome e não nos foi permitida a visita a ele. Encontra-se carcerário. Está sempre nas celas, mais alguns colegas. Entregamos a comida aos indivíduos da unidade penitenciária que fazem a entrega da alimentação dos detidos na celas. É só isso que eu vi. Eu não vi o meu filho.
DW-África: Então não conseguiu falar com ele?
FB: A nossa autoridade não permite que falemos com os nossos filhos que estão aí detidos.
DW-África: Na sua opinião, seu filho Nito Alves cometeu um crime?
FB: Eu acho que não é nenhum crime. O que querem é intimidar a população. Como as pessoas reclamam da má governação do nosso governo, [o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos] sente-se ofendido. E quando as pessoas lhe chamam de ditador, ditador é aquela pessoa que não aceita que as pessoas esclarecem daquilo que sentem que está errado. Aqui em Angola a democracia não se faz sentir.
O meu filho está detido injustamente. Só que os jovens são ativistas, nunca foram militares. Para a pessoa fazer golpe de Estado, tem que ter capacidade, tem que ser um indivíduo que tem patente muito alta. Agora, eles [as forças de segurança angolanas] encontraram os miúdos a estudarem um livro, uma palestra que fala do indivíduo ditador. Acho que não é um crime porque, sendo civis, estudantes, sem armamento, é difícil fazer golpe de Estado. Golpe de Estado se faz com poderes. Poderes que sao indivíduos que pertencem aos quadros superiores.
DW-África: Independentemente de tudo, como pai, como se sente com um filho na cadeia – e não é a primeira vez que o Nito Alves vai para a cadeia?
FB: Meu filho foi sempre torturado, mesmo preso. Já uma vez já ele esteve detido por ter impresso 20 camisolas dizendo "ditador". Ele [o Presidente angolano] achou que fosse um crime que pretendiam lhe tirar o po der. Agora, suponhamos, será que um livro ou apontamentos de algumas frases que falam da ditadura é um crime? Será que um livro também é uma faca, é uma flecha?
Eu não concordo que esses jovens preparavam-se para fazer um golpe de Estado. Mas como ele [JES] quer intimidar as pessoas para que não reclamem dos seus direitos, faz tudo o que quiser, da sua forma, sem correr os direitos que fazem parte da democracia ou dos direitos humanos.
DW-África: Sabemos que da outra vez em que esteve preso, Nito Alves teve graves problemas de saúde. Neste momento, como está a saúde dele?
FB: Não conseguiram conversar com ele. A mãe viu-lhe por uma distância. Só saiu da porta, não se aproximou para falar com a mãe. A mãe viu o Nito. Está totalmente magrinho, porque desde que eles foram presos, continuam sempre na cela. Quer dizer, não se vê pela parte da Justiça, que se resolva a situação dos miúdos.