Nigéria adia eleições presidenciais e legislativas
16 de fevereiro de 2019O presidente da Comissão Nacional Eleitoral Independente (CENI) da Nigéria, Mahmood Yakubu, anunciou o adiamento quase cinco horas antes da abertura das assembleias de voto em todo o país: "Após uma cuidadosa revisão da implementação do plano logístico e operacional, e tendo em vista a determinação de realizar eleições livres, justas e confiáveis, a Comissão concluiu que o processo de eleições conforme programado já não é mais possível", afirmou o presidente da CENI.
A Comissão remarcou as eleições presidenciais e da Assembleia Nacional para sábado, dia 23. Já as eleições para renovar a Assembleia de Governadores, as Câmaras Estaduais e o Conselho do Território da Capital Federal, previstas inicialmente para o dia 2 de março, terão lugar no dia 9 do próximo mês.
Yakubu disse que "esta foi uma decisão difícil de tomar, mas necessária para o sucesso das eleições e a consolidação da (...) democracia". A medida inesperada oferece "a oportunidade de enfrentar os desafios identificados para manter a qualidade de nossas eleições", acrescentou o presidente, sem avançar mais detalhes.
A decisão foi anunciada após reuniões das autoridades esta sexta-feira (15.02) e já na madrugada de sábado para debater a falta de materiais de votação em algumas comunidades.
A medida não é inédita no país: em 2011 e 2015, a Nigéria também adiou eleições presidenciais devido a problemas de logística e segurança.
Acusações mútuas
Os dois principais partidos que concorrem às eleições condenaram veementemente o adiamento do escrutínio, acusando-se mutuamente de estarem na origem da decisão de remeter a votação para 23 de fevereiro.
O partido no poder, o Congresso dos Progressistas (APC), afirmou estar "extremamente desapontado" com a decisão, pedindo à comissão eleitoral para permanecer "imparcial".
"Esperamos que a Comissão Eleitoral Nacional Independente (INEC) permaneça neutra e imparcial neste processo, pois rumores sugerem que este adiamento foi orquestrado pelo principal partido da oposição, o PDP (Partido Popular Democrático), que nunca esteve pronto para esta eleição", disse o diretor de campanha do atual Presidente Muhammadu Buhari.
"Não ofereça a ninguém, especialmente ao PDP, a oportunidade de mergulhar a nação numa crise, que é tudo que eles querem", escreveu Festus Keyamo num comunicado.
Por sua parte, o candidato da oposição Abubakar Atiku apelou aos seus apoiantes que se mantivessem calmos perante uma "provocação".
"Eles [a APC] sabem que o povo nigeriano está determinado a rejeitá-los, eles estão desesperados e fariam qualquer coisa para evitar isso", escreveu o candidato do PDP do estado de Adamawa, onde nasceu e para onde se tinha deslocado para votar hoje.
"O plano deles é o da provocação, esperando uma reação negativa e de assim poderem utilizar táticas antidemocráticas", acrescentou. "É por isso que peço aos nigerianos que sejam pacientes (...) e lhes respondam nas urnas".
Mais de 70 candidatos, dois favoritos
Nestas eleições, os nigerianos escolhem o seu Presidente, os deputados à Assembleia Nacional e os governadores dos 36 estados do país, num escrutínio que se apresenta como imprevisível.
Há 73 candidatos na corrida à Presidência, mas a escolha deverá recair sobre o Presidente cessante, Muhamadu Buhari, e o seu principal rival, o antigo vice-Presidente Atiku Abubakar.
O novo Presidente terá que enfrentar o imenso desafio do emprego para os jovens, sabendo que 87 milhões de nigerianos vivem abaixo do nível de pobreza extrema, número apenas ultrapassado pela Índia, que, no entanto, tem 1,3 mil milhões de habitantes.
Buhari tem 76 anos, e já governou o país em 1983, na sequência de um golpe de Estado e durante o período das ditaduras militares. Já Atiku Abubaka quer conquistar os eleitores da faixa etária 18-30 anos, com o argumento da sua juventude em relação a Buhari.