Nigéria: Clima tenso após suspensão da contagem de votos
11 de março de 2019As autoridades eleitorais nigerianas anunciaram a suspensão das suas atividades em áreas reconhecidas como redutos da oposição neste domingo (10.3), citando a violência e as ameaças ao seu pessoal com as razões. Protestos e clima de tensão marcam o país na esteira dos aguardados resultados das eleições regionais.
A declaração da Comissão Eleitoral Nacional Independente (INEC) nigeriana, suspendendo o processo eleitoral em áreas do estado de Rivers, rico em petróleo, veio depois que dezenas de homens em uniformes militares cercaram um centro de contagem de votos na capital do estado, Port Harcourt. O fato causou preocupação internacional e o exército negou envolvimento de seus soldados.
Neste sábado (09.3), os nigerianos foram às urnas em eleições para governadores em 29 dos 36 estados da Nigéria, assembleias estaduais e conselhos administrativos no Território da Capital Federal de Abuja. Apesar da suspensão da contagem no reduto da oposição, em Rivers, a contagem continua noutras áreas do país - os resultados são esperados nos próximos dias.
"Violência substancial"
Incidentes de violência marcaram a votação, com relatos de sequestros e mortes, bem como preocupações com a compra de votos e uma forte presença militar. "A segurança do nosso pessoal parece estar em perigo em todo o estado, e a Comissão está preocupada com a credibilidade do processo", informou a referida instituição eleitoral nigeriana.
Segundo relatos de equipas da Comissão Eleitoral Nacional Independente nigeriana em Rivers, houve "violência substancial nas unidades de votação, sendo que funcionários foram tomados como reféns e materiais, incluindo os cadernos com os resultados da votação foram apreendidos ou destruídos por pessoas não autorizadas".
Em Port Harcourt, repórteres da agência de notícias AFP informaram que homens em uniformes militares bloquearam estradas ao redor do prédio onde funcionários da referida comissão eleitoral faziam a contagem dos votos, provocando um impasse com a polícia, que inicialmente usou gás lacrimogéneo, mas depois recuou.
Já as Forças Armadas da Nigéria negaram categoricamente que seus homens estivessem entre as fileiras, acusando "bandidos políticos" de se vestirem com uniformes do exército e transportarem armas, "passando-se assim por soldados, a perpetrar vários crimes em prol de seus chefes políticos".
Antes disso, o Alto Comissariado Britânico em Abuja manifestou-se através da rede social Twitter, dizendo estar "extremamente preocupado" com os "relatos de interferência militar no processo eleitoral no estado de Rivers".
Eleições regionais
As eleições regionais estão a ser fortemente contestadas na Nigéria, especialmente onde os governadores despontam como figuras poderosas e influentes a controlar as finanças do Estado e outras áreas-chave, como a educação e a saúde.
Em Lagos, entretanto, o Congresso dos Progressistas (APC), do Presidente Muhammadu Buhari, mantém-se no controlo do Governo, de acordo com resultados anunciados por uma autoridade local da Comissão Eleitoral Nacional Independente.
Pela segunda vez, em quinze dias, nigerianos votaram neste sábado (09.3), depois das eleições presidenciais de fevereiro, em que Buhari conseguiu um segundo mandato - um resultado contestado pelo PDP. Por sua vez, o PDP, que criticou a decisão da INEC em Rivers, espera vencer em alguns dos 22 estados atualmente administrados pelo APC de Buhari.
Nesta segunda-feira (11.3), milhares de pessoas protestaram contra a suspensão das eleições regionais no estado nigeriano de Rivers, após a interrupção generalizada da votação.