Nampula: Comissão eleitoral acusa partidos de interferência
26 de abril de 2023As autoridades da administração eleitoral na província moçambicana de Nampula, no norte do país, reagiram, pela primeira vez, aos problemas no processo de recenseamento eleitoral que arrancou no dia 20 de abril.
O presidente da Comissão Provincial de Eleições, Daniel Ramos, acusa os partidos de interferência política. "Há fiscais [dos partidos políticos] em algumas brigadas de recenseamento que têm feito um recenseamento paralelo que não sabemos para onde vai, e nós conseguimos encontrar esses fiscais com listas nos seus cadernos", revelou.
"Alguns dirigentes dos partidos políticos vão para os locais de recenseamento, onde também tem seus fiscais, e quando lá chegam provocam confusão e os brigadistas ficam a gerir confusão", criticou ainda Daniel Ramos.
E os problemas não param por aqui. A Comissão Provincial de Eleições de Nampula anunciou para breve uma reunião com os partidos políticos. "Neste contacto que vamos ter com os partidos políticos, vamos discutir as melhores formas: ou são os fiscais a fiscalizar o processo ou são pessoas indicadas pelos partidos para fiscalizar", disse Ramos.
Dificuldades técnicas
Desde o início do recenseamento, a 20 de abril, a província de Nampula registou nos oito municípios um total de 24.800 eleitores, dos mais de um milhão esperados em todo o processo.
Daniel Ramos assume que o processo decorre com várias dificuldades, nomeadamente ao nível da tecnologia. "As nossas máquinas têm alguns problemas, há momentos em que os cartões saem sem assinaturas porque, por outro lado, os seus utentes não sabem assinar. Os partidos sempre dizem que estes não vão votar. Isso não é verdade, vão votar, porque os nomes estão nos cadernos eleitorais", esclareceu.
Outro dos desafios é acelerar o processo de recenseamento e isso significa aumentar a supervisão. "Vamos fazer a supervisão do recenseamento principalmente nas cidades de Nampula e Nacala", acrescentou.
Partidos trocam acusações
Do lado dos partidos, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) acusa a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) de promover irregularidades, enquanto o partido no poder aponta o dedo ao Movimento Democrático de Moçambique (MDM) e ao maior partido da oposição moçambicana.
O mandatário da RENAMO, Ossufo Ulane, acusa a FRELIMO de querer ganhar as eleições a todo custo. "O principal perturbador deste processo é a FRELIMO, porque não estava preparada patra ver um processo de recenseamento eleitoral fiscalizado de forma serena", acusa.
"Eles [FRELIMO] recolhem bilhetes e listas para fazerem o recenseamento de indivíduos que acham que são os seus membros, transportam pessoas de fora para cá e nós quando descobrimos levamos à polícia e isso incomoda", disse ainda Ossufo Ulan.
Isac Jamal, oficial de comunicação da FRELIMO em Nampula, desmente todas as acusações. "Aqui em Nampula os grandes contentores dos problemas são a RENAMO e o MDM, por isso, este assunto é da RENAMO e MDM. A FRELIMO distancia-se, porque a nossa posição é de que este processo tem de ser cívico e ordeiro", disse.