Médio Oriente e Portugal em destaque na imprensa germânica
25 de março de 2011O jornal liberal de Munique, Süddeutsche Zeitung, escrevia na edição desta sexta-feira: "Quando começaram a chegar a Damasco as noticias dos incidentes violentos na cidade de Deraa, no sul da Síria, todos se lembraram de Hama – a cidade onde os soldados de Hafis al Assad, o pai do actual Presidente, fizeram um horrível massacre em 1982, matando milhares de pessoas, depois duma revolta organizada pela irmandade muçulmana.
O comité sirio dos direitos humanos afirma que foram ali mortas nesse ano cerca de 25.000 pessoas e que a maior parte da cidade velha foi completamente arrasada. Desde então reinou na Síria uma paz de cemitério, abafando toda a oposição. Os massacres de Hama são um dos grandes temas tabu na Síria. Nas escolas ninguém fala disso e nas conversas particulares o assunto é evitado.
"Os protestos em Daraa, escreve o Frankfurter Allgemeine Zeitung, conservador, são a maior crise e o maior desafio para o actual presidente Bashar al Assad que sucedeu há 11 anos ao seu pai. Até agora, os protestos de Daraa ainda não alastraram à capital, Damasco, e a outras cidades grandes. O regime enganou-se pensando que conseguiria abafar os protestos com uma repressão violenta. Mas aconteceu precisamente o contrário. O Presidente tentou uma fuga para a frente, demitindo o governador de Daraa, que era acusado pelos manifestantes de corrupção. Mas as suas palavras de ordem iam mais longe, reclamando "liberdade!" e a libertação de todos os presos políticos.
Alemanha isola-se internacionalmente
Sobre a crise na Líbia e a posição da Alemanha, frente a ela, escrevia o Neue Zürcher Zeitung, um jornal suiço de língua alemã que se publica em Zurique: "Mais perigoso que os ataques da oposição é o mal estar crescente dentro da própria CDU, União Democrata Cristã, por causa da política ambígua de Berlim frente à crise na Líbia; e pela reviravolta súbita da sua posição frente à energia nuclear. Os críticos da chanceler Merkel têm-se mantido em silêncio porque, no próximo fim de semana, há eleições em dois estados federados. Mas se, no domingo, a CDU perder em Baden Würtemberg, depois de 58 anos no poder, as suas críticas virão todas à tona.
O Frankfurter Rundschau, um diário liberal de Frankfurt, comentava: "Ao recusar participar no conflito da Líbia, a Alemanha isola-se cada vez mais internacionalmente. A Turquia, que até agora também hesitava, anunciou, na quarta feira, que coopera com os aliados no bloqueio naval, para impedir que a Líbia receba armas.
Incerteza política em Portugal
A imprensa alemã também comentou largamente a queda do governo português. Por exemplo, o jornal Tagesspiegel, de Berlim, escrevia: "Seria um engano pensar que os problemas dos portugueses só a eles dizem respeito. Não, a incerteza política em Lisboa é uma enorme ameaça para o Euro. O chefe do governo, Sócrates, fez tudo o que pôde para evitar que o seu país tivesse de pedir ajuda à União Europeia. Para isso tentou aplicar um duro programa de austeridade, exigindo muito dos seus compatriotas. Mas foi em vão.
Para a União Europeia, este vácuo político é muito perigoso. Depois da Grécia onde apesar de todas as medidas de poupança draconiana não se vislumbram resultados positivos, e da Irlanda, abalada pela crise bancária, surge agora Portugal como terceiro foco de incêndio na zona Euro. As hesitações dos portugueses são compreensíveis, mas quanto mais se arrastar a crise em Lisboa, maior será o perigo de contágio para outros estados europeus em dificuldades financeiras como a Espanha e a Itália.
Ainda sobre Portugal, escrevia o Frankfurter Allgemeine Zeitung: "A estratégia global dos europeus, para reforçar a união económica e a União Monetária, vai fazer de 2011 um ano decisivo para o Euro e para toda a União Europeia. A chanceler, Angela Merkel, recordou que a capacidade da Alemanha para ajudar financeiramente os países em dificuldades é limitada.
Autor: Carlos Martins/Helena Ferro de Gouveia
Revisão: Cristina Krippahl