Médicos angolanos cobram melhores condições de trabalho
20 de novembro de 2018Os médicos grevistas em Angola estão atender apenas os casos de urgências em todos os hospitais do país. Os profissionais de medicina iniciaram esta segunda-feira (19.11), uma greve nacional de três dias, na qual exigem melhores condições salariais e de trabalho.
Em Luanda, a DW África fez uma ronda em algumas unidades hospitalares e constatou que estão a funcionar parcialmente. No Hospital Geral de Luanda, um dos principais da capital angolana, vários pacientes tiveram que esperar por muito tempo para ser atendido por especialistas que estão de plantão.
O paciente Edmar Silva chegou às 10h àquele hospital e até às 14h, momento em que a reportagem DW chegou ao local, ainda não tinha sido atendido por um médico. "As coisas não devem ser assim, queremos melhoria. E o setor da saúde deve estar em primeiro lugar. E esta situação é muito triste", disse o paciente.
O paciente apela: "[Os médicos] estão a realizar greve porque não há dinheiro. Eles e o Governo devem resolver isso o mais rápido possível, porque nós é quem passamos mal".
Demora no atendimento
Aflito no banco de urgência do hospital de Luanda, localizado no Camama, estava Francisco Morais, que lamentou a lentidão no atendimento. O jovem afirmou que seu irmão estava com dores abdominais, chegou às 4h da manhã desta segunda-feira naquela unidade sanitária, mas depois de quase oito horas ainda não tinha falado com nenhum médico.
"Se deram exceção, que atendam as pessoas. Se estão em greve, deviam fechar e nós íamos parar no portão [da unidade hospitalar] e encontrar outras alternativas", protestou o irmão do paciente.
A situação não está fácil para os médicos em serviço nos bancos de urgência, pois a demanda aumentou. Segundo o clínico em serviço no banco de urgência do Hospital Geral de Luanda, Daniel Café, apenas dois profissionais estavam a trabalhar para atender 400 doentes.
"Habitualmente atendemos mais de 200 pacientes por dia, mas com toda certeza estão já a ultrapassar essa quantidade de 200 antes da metade do dia e só temos dois médicos no banco de urgência. Há uma previsão de atendermos 400 pacientes [hoje]", indicou.
Negociações
Num comunicado divulgado esta segunda-feira à imprensa, o Ministério da Saúde manifestou total disponibilidade para negociar com os médicos, recordando que foi criada uma comissão coordenada pelo secretário de Estado para a área hospitalar, que conversou com o Sindicato dos Médicos no passado dia 14 deste mês.
"[A ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta] demora quase quatro meses para responder a um caderno reivindicativo, manda-nos a resposta 19 horas antes, e quer que nós respondamos na hora", criticou o médico Adriano Manuel.
Em declarações à DW África, o secretário provincial do Sindicato dos Médicos de Luanda, Cândido da Silva, disse que o Ministério da Saúde, não respondeu as preocupações dos médicos dentro do prazo de 90 dias, proposto na mesa de negociações.
Os representantes do Ministério da Saúde, de acordo com o médico, ao invés de dialogar tentaram travar a greve. "Esse bom senso demos ao longo dos três meses. A lei permite que o patrão responda o caderno reivindicativo em cinco dias e nós esperámos noventa dias. Aí não há bom senso? Muito mais que bom senso", afirmou Cândido da Silva.
O sindicalista diz que os médicos nacionais são injustiçados pelo patrão, que no seu entender atribui mais regalias aos expatriados em detrimento dos técnicos angolanos.
De acordo com Cândido da Silva, os profissionais que trabalham no interior de Angola são os mais sacrificados. "Há enfermeiros colocados pelo Ministério da Saúde nos municípios de Angola que vivem em casas onde não há condição de habitabilidade. Se quiserem, vão ali e verão o hotel que fizeram para os chineses e os cubanos. Isso não é xenofobia, é a dura realidade. Isso é que nos magoa. Podem lá ver, é um hotel cinco estrelas onde eles estão. E para os angolanos, dão casas sem luz. Os médicos vão até ao rio acarretar agua para o consumo", criticou.