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Mulheres de STP entre a família e a carreira profissional

Roberta Avillez23 de fevereiro de 2015

Cada vez mais mulheres de São Tomé e Príncipe trabalham. Para alem de espaços tradicionalmente dominados por mulheres como os mercados, conquistaram aos poucos o seu próprio espaço em instituições como o Banco Central.

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Foto: João Fanara

Hoje 39% das famílias são-tomenses são chefiadas por mulheres. Mas o processo de emancipação da são-tomense trouxe o aumento das tarefas e responsabilidades para a mesma. Muitas iniciam a jornada às 3h da manhã e terminam às 22h. Pois, por um lado, elas têm que contribuir para a renda familiar, e por outro lado, são responsáveis pelas tarefas domésticas.

Dentro do grupo das mulheres que chegaram ao topo em São Tomé encontra-se Maria do Carmo Trovoada, atualmente governadora do Banco Central de São Tomé e Príncipe e que também já exerceu o cargo de primeira ministra. Mulher de fala mansa e ao mesmo tempo firme, feminina e feminista, ela compartilha a sua percepção sobre esta parcela de seu país: “o próprio processo de afirmação da mulher na sociedade encontra muitos bloqueios. Elas deixam-se, enfim, ficar pelo caminho”.

Imagem da mulher como progenitora

São Tomé und Príncipe Frauen und Wäsche
Tarefas domésticas: mulheres lavam roupa numa ribeira em São João dos AngolaresFoto: João Fanara

A percepção como progenitora e do homem como viril ainda é muito presente na cultura do país. A decisão de uma mulher postergar a formação de uma família em prol de sua educação e de objetivos profissionais nem sempre é bem aceita pela sociedade.

É preciso ainda mais atenção para perceber a relação que entrelaça a mulher ao homem são-tomense. O antropólogo alemão Gerhard Seibert, no seu livro Camaradas, Clientes e Compadres, ressalta a poligamia como uma reafirmação cultural da virilidade masculina. Cabe à mulher aceitar as múltiplas relações do parceiro. O autor fala sobre o Estado pós-colonial em São Tomé e Príncipe, e apresenta a “atividade sexual (masculina) como um imperativo natural que deve ser regularmente satisfeito e cuja supressão é prejudicial à saúde”. Cabe à mulher ser mãe como prova da feminilidade e como reafirmação da virilidade masculina.

A colonização portuguesa trouxe a religião católica e instituiu o casamento nas ilhas do Golfo da Guiné. A maioria da população reconhece-se como católica. Entretanto, a cultura da poligamia é percebida como natural entre os habitantes, embora contrariando os princípios da igreja católica.

Outros tipos de união entre homem e mulher

São Tomé Fair Trade Kakao
Trabalho: muitas mulheres têm emprego na produção do cacau, produto emblemático da Ilha de São ToméFoto: DW/Ramusel Graça

Para além do casamento, o país conhece mais dois tipos de união. A união de facto e a chamada vivencha em que o homem faz visita à mulher de tempos em tempos.

Com o passar dos anos, a estrutura familiar vai alterando-se e, com isso, também alteram-se os valores familiares. Por exemplo, Eneida Souza, com seus 40 e poucos anos, considera-se solteira, entretanto vive com seu parceiro. Acredita que a vida para a mulher são-tomense é complicada quando comparada à vida do homem: “É difícil, a vida está dura, não há emprego, para conseguir emprego tem que se ter estudos, tem que ter padrinho na cozinha”. Ao referir-se à filha de 19 anos de idade, Eneida busca incentivá-la para não perder as esperanças em seus sonhos, enquanto isso recomenda um trabalho para conseguir sustentar-se sozinha.

Ao debater as possibilidades de emancipação da mulher são-tomense, a política Alda Bandeira relata que a perspectiva é positiva e que houve evolução nas últimas décadas: “Antes a mulher não era livre, a mulher se quiser hoje pode ir longe”.

Este artigo foi possível com o apoio do programa de formação jornalística “Beyond Your World”, financiado pela Comissão Européia e pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros dos Países Baixos.

São Tomé Frauen
Mulher na Avenida Marginal 12 de Julho na cidade de São ToméFoto: J. Fanara
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