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Maputo: Mulher de Man Gena acusa hospital de morte da filha

Maria João Pinto | Lusa
10 de abril de 2023

Casal angolano está sob custódia em Moçambique, após denúncias de envolvimento de altas autoridades angolanas no narcotráfico. Esposa fez denúncia nas redes sociais. ONG pede inquérito à morte da bebé.

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Hospital Central de Maputo - Zentralkrankenhaus Maputo
Foto: DW/J. Beck

Num vídeo publicado este domingo (09.04) no Youtube e posto a circular nas redes sociais, a mulher do cidadão angolano Gerson Emanuel Quintas, conhecido como "Man Gena", que se encontra sob custódia com a família em Moçambique por denunciar o alegado envolvimento de altas autoridades angolanas no narcotráfico, acusa o Hospital Central de Maputo (HCM) de matar a bebé recém-nascida do casal.

A filha do denunciante angolano morreu a 7 de abril, dois dias após a sua mãe, que também está sob custódia das autoridades, dar à luz no HCM. No vídeo, Clemência Suzete Vumi responsabiliza os médicos pela morte da bebé recém-nascida.

"Nos dias em que estive no hospital, ia sempre ao berçário e a bebé estava bem, reagia bem à medicação", conta. Já depois de ter recebido alta e de ter ido a casa, enquanto a bebé estava na incubadora, "supostamente, eles dizem que a minha bebé teve ataques cardíacos, fez duas paradas cardíacas. Tiveram que reanimá-la, sangrou pela boca. Reanimaram a primeira vez, não conseguiram reanimar a segunda vez, e a bebé faleceu".

"Vocês esperaram eu sair do hospital para para matarem a minha bebé", acusa Clemência Vumi.

Citado pelo jornal O País, Agostinho Daniel, diretor do Departamento de Ginecologista e Obstetrícia do Hospital Central de Maputo, rejeita as acusações. O responsável garante que "tudo foi feito seguindo os protocolos clínicos" para salvar a bebé e a mãe, que entrou no hospital "com uma complicação obstétrica, que afetava uma gravidez ainda prematura".

Hospital Central de Maputo - Zentralkrankenhaus Maputo
Hospital Central de Maputo nega as alegaçõesFoto: DW/J. Beck

Apelo à UNITA

No mesmo vídeo, Clemência Vumi afirma que pediu ajuda ao líder do maior partido da oposição angolana, a União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), por temer pela vida: "Pedi ao senhor Adalberto Costa Júnior, à bancada da UNITA, para me virem socorrer aqui em Moçambique, porque eu estava a ser maltratada, o plano deles era eliminar-me".

Na semana passada, um grupo de deputados da UNITA disse em conferência de imprensa que Man Gena "teme por envenenamento alimentar".

"A esposa, em estado de gestação, denuncia ter-lhe sido negada a assistência médica há mais de um mês", afirmou Olívio Quilumbo, que chefiou uma delegação parlamentar da UNITA, que visitou Maputo, entre os dias 21 e 26 de março.

ONG pede inquérito

Na manhã desta segunda-feira (10.04), a Rede Moçambicana de Defensores dos Direitos Humanos pediu um inquérito à morte da bebé. "É preciso que se façam exames [autópsia] para que se saiba a razão da morte do bebé", declarou à agência de notícias Lusa o presidente da Rede Moçambicana de Defensores dos Direitos Humanos, Adriano Nuvunga.

À tarde, em conferência de imprensa, o Hospital Central anunciou que vai realizar uma autópsia para apurar as circunstâncias da morte da recém-nascida. "Está a ocorrer uma situação que envolve o departamento de Ginecologia e Obstetrícia, o departamento de Pediatria e também da Direção do Próprio Hospital. Está a fazer-se esse estudo. É um caso que está a ser necessário envolver esses setores todos que falei, mas também o próprio Ministério", explicou o médico chefe do serviço de urgência de adultos do HCM, Justino Madeira.

Para a Rede Moçambicana de Defensores dos Direitos Humanos, a esposa de Man Gena foi tratada com "negligência" pelas autoridades, acusando-as de não terem permitido que a mulher tivesse acompanhamento pré-natal.

"Podemos, sim, afirmar que houve negligência da parte do nosso Estado em primeiro lugar. Nas nossas conversas com o hospital, os médicos disseram que a condição em que ela chegou ao hospital não dava muitas chances de vida à bebé", afirmou Nuvunga, que acusa também as autoridades de ter levado a mulher de Man Gena ao hospital apenas quando começou a ter "sintomas de aborto".

"O direito à saúde [da mãe e da bebé] sempre esteve em causa", acrescentou o ativista moçambicano que acompanha o processo.

Artigo atualizado às 20h30 CET, com o anúncio da realização da autópsia pelo Hospital Central de Maputo.

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