Mukhero, a arte do contrabando em Moçambique
8 de abril de 2011Emília vai hoje à Suazilândia buscar carne de porco. Acácio – o amigo – também vai e Janine – a vizinha que aproveita a boleia para se iniciar no negócio da carne.
Na viagem de Maputo até à fronteira de Namaacha, e para lá da linha que separa Moçambique da Suazilândia, os três encontram ainda Humberto, o homem que lhes troca meticais moçambicanos por rands sul-africanos, que, como moeda forte na região, são necessários para as compras; Sandra, a mukherista profissional; e Raimundo, que diz ser bandido há já dez anos. É ele quem carrega a carne pela fronteira e paga aos funcionários da alfândega para que estes fechem os olhos ao que por lá se passa.
O contrabando de bens dos países da região terá começado em força no período que se seguiu à independência de Moçambique, em 1975, e sobretudo durante a guerra civil, a partir de 1976. Como nessa altura a população que vivia junto da fronteira não podia deslocar-se até Maputo para se abastecer devido aos riscos que correria, importava bens alimentares da Suazilândia. Mais tarde, juntaram-se mulheres que chegavam da capital, Maputo. Eram viúvas, divorciadas ou mães solteiras e até mesmo mulheres casadas.
Ainda hoje, são estas mulheres e outras mais jovens nas mesmas condições que encontram no comércio informal transfronteiriço, o mukhero, uma alternativa para começar a sua vida ou garantir o aumento de renda das famílias. Tudo com a ajuda de homens como Raimundo.
Marta Barroso numa viagem de Maputo até à Suazilândia.