Moçambique: Organismos condenam ataque a jornalista da DW
16 de setembro de 2020Luciano da Conceição foi agredido por desconhecidos e levado inconsciente para uma zona da praia na cidade da Maxixe, onde permaneceu até ao dia seguinte.
Segundo o profissional de comunicação, os malfeitores apoderaram-se de diversos bens, incluindo equipamento de trabalho.
"Antes de abrir a porta da casa fui surpreendido com dois indivíduos desconhecidos, mascarados e com faca que me disseram para não fazer barulho", relata o jornalista. "Colocaram-me um pano na boca e bateram-me até perder os sentidos", diz ainda.
Em comunicado, o Sindicato Nacional de Jornalistas (SNJ) em Inhambane informa que "recebeu com preocupação a informação dando conta que o jornalista da DW sofreu ofensas corporais na noite de domingo".
Aquela estrutura sindical refere que o "caso já é de conhecimento das autoridades policiais na cidade da Maxixe", embora não se saiba ainda a identidade dos autores do ataque.
O Sindicato Nacional de Jornalistas, a SNJ em Inhambane, e a DW lamentam o sucedido e pedem para que os autores deste crime sejam encontrados e responsabilizados.
MISA pede investigação
Em comunicado, o MISA Moçambique - Instituto para a Comunicação Social na África Austral - descreve que se vive um ambiente de "impunidade" no país e "manifesta a sua profunda preocupação pela crescente onda de perseguição e de agressões contra jornalistas".
Na nota, o MISA dá conta de um segundo caso de intimidação de jornalistas no domingo (13.09). "O jornalista da TV Sucesso, Leonardo Gimo, sofreu um atentado, no qual lhe foi arrancada a sua câmara de filmar, em plena via pública", lê-se no documento.
"O atentado contra Leonardo Gimo ocorreu por volta das 21h00 horas e foi protagonizado por três indivíduos não identificados", indica ainda.
Leonardo Gimo viria a recuperar o equipamento no dia seguinte, já na esquadra local da polícia de Inhambane, onde voltou a ser aconselhado a apagar imagens que comprometessem homens da FRELIMO, o partido no poder.
"Ao recuperar a sua máquina, Leonardo Gimo apercebeu-se de que tinham sido apagadas imagens onde apareciam indivíduos supostamente membros da FRELIMO que se haviam infiltrado num evento da RENAMO, realizado no mesmo domingo à noite, do qual Leonardo Gimo tinha estado a fazer cobertura jornalística", afirma a nota de imprensa.
Casos até aqui não esclarecidos
"Estes últimos casos ocorrem num momento em que ainda não foi cabalmente esclarecido o desaparecimento de Ibraimo Mbaruco, locutor da Rádio Comunitária de Palma, na província de Cabo Delgado, raptado no dia 7 de abril.
Recorde-se que antes do seu desaparecimento, Ibraimo Mbaruco enviou uma mensagem a um dos seus colegas, dando conta que estava cercado de militares", recorda o MISA.
"Mais uma vez, o MISA Moçambique apela às autoridades nacionais, nomeadamente a polícia e o Ministério Público, a empenharem-se de forma convincente na investigação de casos que representam uma verdadeira ameaça aos princípios fundamentais da liberdade de expressão e liberdade de imprensa consagrados na Constituição da República de Moçambique, tendo em conta que o usufruto destas liberdades constitui o principal alicerce para a materialização de um outro direito fundamental, que é o do acesso do Povo à informação", reitera o organismo.
"O MISA Moçambique lembra ainda que é função das autoridades do Governo proteger todos os cidadãos, incluindo profissionais da comunicação social", conclui o comunicado.