Moçambique: RENAMO denuncia perseguição de ex-guerrilheiros
19 de novembro de 2021Em Moçambique, pelo menos 2.554 combatentes da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), de um total de 5.262, continuam à espera da integração na vida civil no âmbito do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR). Segundo o secretário-geral da RENAMO, André Madjibire, parte destes combatentes continua em bases espalhadas um pouco por todo país.
"Estão contactáveis e estão nas bases. Só vão sair das bases depois da sua desmobilização. Continuam [a ser] militares, mas não estão a exercer qualquer atividade militar como tal, estão ali mesmo a aguardar pelo seu dia para serem desmobilizados", referiu o responsável à DW no fim da visita que fez às províncias centrais de Sofala e Manica.
Sem fim à vista
O processo de DDR enquadra-se nos esforços de pacificação do país e teve início em 2019. O término estava previsto para meados de 2021, mas Madjibire não precisou sobre novos prazos para a sua conclusão.
"Para este tipo de processos, podemos não adiantar prazos. Preferimos trabalhar com cautela para que todo o processo seja digno de crédito. O importante é que se efetive a desmobilização de todos", acrescentou.
O número dois do maior partido da oposição denunciou, no entanto, uma alegada perseguição aos membros do partido, bem como quadros e ex-guerrilheiros. "Prevalecem ainda intimidações e perseguições a membros e simpatizantes da RENAMO protagonizadas por secretários e grupos dinamizadores com a cumplicidade de estruturas administrativas do bairro", indicou.
Receio pela vida
Segundo André Madjibire, essa intimidação é protagonizada por agentes da polícia e membros da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), o partido no poder, nos distritos de Búzi e Chibabava, onde denuncia a exclusão social de simpatizantes da RENAMO.
"Muitos dos nossos delegados, dos nossos membros, dormem no mato por temerem perseguições, sequestros e assassinatos", descreve.
Madjibiri apela às autoridades moçambicanas, à comunidade internacional e aos doadores para agirem com brevidade para ultrapassar as diferenças.
Já o analista Dércio Alfazema alerta que estas atitudes podem certamente beliscar as relações entre a RENAMO e a FRELIMO. No entanto, o especialista considera que antes do início do processo de DDR deveria ter sido feito um trabalho de educação junto das comunidades, bem como dos membros da RENAMO, incluindo os recém-desmobilizados.
"Nós temos uma dimensão social, uma dimensão política e até económica do DDR que não está a ser tida em consideração e é exatamente por aí que se podem levantar alguns constrangimentos", refere o especialista.
"As comunidades não estão a ser preparadas para receber esses homens e não há nenhum processo de criação de confiança que demostra que essas pessoas que regressam [à vida civil] já não são guerrilheiros", conclui.