ONG exige que empresas francesas abandonem projetos de gás
15 de junho de 2020Um relatório, intitulado "Um golpe inesperado para a indústria, uma maldição para o país: França lança Moçambique na armadilha de gás", afirma que 60 biliões de dólares serão investidos em vastas reservas subaquáticas descobertas em 2010 em Cabo Delgado, norte de Mocambique.
No entendimento da ONG Amigos da Terra (FOE), "há vários anos, todo o arsenal da diplomacia económica francesa trabalha para defender os interesses franceses em Moçambique".
Estimada em 5.000 bilhões de metros cúbicos, a descoberta do gás pode transformar um dos países mais pobres do planeta num dos principais exportadores de gás natural liquefeito (GNL).
Danos climáticos
No entanto, a FOE diz que "as maquinações francesas estão a forçar mais um país africano a depender de combustíveis fósseis em nome dos interesses económicos dos industriais e banqueiros franceses do setor da energia".
O relatório observou que três projetos de gás atualmente em desenvolvimento na região "poderiam liberar o equivalente a sete vezes as emissões anuais de gases de efeito estufa da França e 49 vezes as atuais emissões anuais nacionais de Moçambique".
Por isso a ONG alerta que "esta é uma bomba climática pronta para explodir e contribuirá para empurrar o mundo ainda mais para a irreversível crise climática".
Total, a ExxonMobil dos Estados Unidos da América e a ENI da Itália esperam começar a explorar as reservas até 2022-23, com a Total a planear investir 25 mil milhões de dólares no empreendimento.
França acusada de ajudar a acender as tensões em Cabo Delgado
As reservas de gás estão localizadas na província de Cabo Delgado, o centro dos últimos dois anos e meio de uma insurgência que fez pelo menos 1.100 mortos, de acordo com uma contagem da ONG Projeto de Localização e Dados de Eventos de Conflitos Armados.
A organização com sede em Londres acusa a França de "ajudar a acender as tensões na província de Cabo Delgado, apoiando empresas multinacionais de gás e a militarização da zona".
A ONG Amigos da Terra disse que "empresas francesas, incluindo bancos privados e empresas de energia como a Total, devem imediatamente pôr um fim ao seu envolvimento em projetos de gás em Moçambique".
Também destacou os bancos franceses Crédit Agricole e Société Générale como sendo "os principais atores a atuar como consultores financeiros para os operadores de gás".