Moçambique: Eleições em Inhambane podem afetar RENAMO e favorecer MDM
5 de janeiro de 2012A RENAMO, principal partido da oposição moçambicana, anunciou na quarta-feira (04.01) que não participará nas eleições intercalares municipais em Inhambane, no sul de Moçambique, alegando que não são livres nem justas.
Luis Nhanchote, editor adjunto do jornal "Canal de Moçambique", em entrevista à Deutsche Welle (DW), classificou de suicida a atitude do partido de Afonso Dhlakama. “Atualmente penso que a Renamo se está a suicidar politicamente. O partido está a chegar ao fim por não participar neste processo eleitoral”, disse.
O ato eleitoral ainda não têm data marcada, mas, de acordo com a legislação eleitoral, deverão realizar-se ainda no primeiro trimestre deste ano. O escrutínio terá lugar na sequência do falecimento do presidente do município, Lourenço Macul.
A Lei Base das Autarquias estipula que são convocadas eleições intercalares quando houver um vazio na presidência do município, faltando dois anos para o final do mandato.
MDM: Uma força emergente
Em declarações à agência Lusa, o porta-voz do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), José Manuel de Sousa, disse que "a Comissão Política irá deliberar sobre a participação, provavelmente, na próxima semana", mas lembrou que o partido "sempre se fez presente" nas eleições no país.
Por seu turno, o porta-voz da FRELIMO, Edson Macuácua, assegurou que o partido no poder em Moçambique, irá participar nas eleições, até porque as "está já a preparar", tendo enviado um grupo de militantes para aquela província, onde sempre venceu eleitoralmente.
O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) é a força política emergente da oposição, sendo vista por muitos eleitores como portadora de uma mensagem de esperança e de mudança para o país.
Renamo em queda
Nhanchote considera que, com a sua autoexclusão, “a Renamo está a ceder, pouco a pouco, o seu espaço político ao MDM. O partido, que já conseguiu conquistar dois municípios governados pela Frelimo e pela Renamo, sabe que tem escassas possibilidades de obter uma vitoria eleitoral num território tradicionalmente dominado pelo partido que detém o poder central.
“Penso que o MDM no processo democrático em curso em Moçambique, ainda numa fase embrionária, tem a possibilidade de se apresentar ao eleitorado como uma alternativa política. Mas o histórico eleitoral, depois do fim da guerra civil, diz-nos que a Frelimo tem possibilidades de vencer as eleições em Inhambane”, adiantou Nhanchote à DW.
Argúcia e inteligência
O editor adjunto do jornal "Canal de Moçambique" sustenta que “o MDM está a saber tirar partido da situação, sobretudo pela inteligência e astúcia do seu presidente Daviz Simango.”
Os governos dos 43 municípios moçambicanos terminam os seus mandatos em 2013, uma vez que foram eleitos em 2008, para mandatos de cinco anos.
Luis Nhanchote acredita que, dentro de dois anos, nas próximas eleições autárquicas, o MDM tenha a possibilidade de conquistar o município de Nampula e até aspirar a vôos mais altos.
“Se o MDM tiver um candidato forte pode até concorrer em Maputo, pois nas últimas eleições gerais conseguiu ganhar em círculos eleitorais da capital onde era impensável que vencesse”, destacou.
O jornalista e analista moçambicano diz que, em Moçambique, existem franjas do eleitorado urbano que estão descontentes com a governação da Frelimo.
Embora o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, resida em Nampula, Nhanchote acha que isso não será suficiente para que o seu partido conserve a atual gestão do município após as eleições de 2013.
“Dhlakama, nas últimas semanas perdeu credibilidade. Foi encontrar-se com o presidente Guebuza, não informou os seus correlegionários e toda a gente ficou a pensar que ele foi fazer um negócio financeiro com o homem forte do país”, concluiu.
Autor: Nádia Issufo
Edição: Pedro Varanda de Castro/António Rocha