Centenas em fuga para Nampula após ataques em Cabo Delgado
21 de fevereiro de 2024A fuga dos populares, a pé e famílias inteiras conforme documentado também por vários vídeos confirmados pela Lusa, acontece desde segunda-feira (19.02) e envolve moradores de Mazeze, Chiúre-Velho, Mahipa, Alaca, Nacoja B, Nacussa, que abandonaram as respetivas aldeias percorrendo mais de 20 quilómetros ao longo da estrada Nacional (N1), até atravessar o rio Lúrio, fronteira com a província de Nampula, à procura do refúgio no distrito de Eráti (Namapa).
"A minha mãe está em Namapa, com seis filhos. Tive de lhe mandar dinheiro pelo menos para comprar de comer", disse hoje uma fonte a partir da cidade de Pemba, enquanto aguardava notícias da família.
O distrito de Chiúre, sul de Cabo Delgado, tem sido alvo de vários ataques nos últimos dias e a população começou a partir em direção a Nampula.
“Estou no grupo. As coisas não estão bem, entraram em Alaca, não queimaram casas, mas estragaram culturas nas nossas machambas [terrenos cultivados]” relatou uma mulher de 57 anos, a partir de Namapa, já em Nampula.
Nesta onda de ataques, um camião-cisterna carregado de combustível, com destino à cidade de Pemba, foi queimado por volta das 16:00 (14:00 em Lisboa) de terça-feira, pelos terroristas, na comunidade de Mahipa, ao longo da estrada EN1, pertencente ao posto administrativo de Ocua, em Chiúre.
"Foi de ter medo"
“Mandaram parar e de seguida obrigaram o motorista a descer, queimaram o camião e puseram-se em fuga. O bom é que não mataram o motorista” disse uma fonte da comunidade, garantindo que a vítima foi prontamente socorrida.
“Conseguiu boleia, mas vai precisar de assistência psicológica, não é fácil deparar-se com esses bandidos”, concluiu.
Ao fim da tarde de terça-feira era notória a movimentação das Forças de Defesa e Segurança para a zona de Ocua, numa aparente tentativa de restituição da ordem em Chiúre.
“Carros e carros, para lá foi muita força, acredito que, pode ser um sinal bom para retornarmos às nossas casas”, afirmou uma mulher de 67 anos, já em Namapa.
Na noite de terça-feira, em diversos pontos das matas do posto administrativo de Ocua, os populares relataram rajadas de tiros.
“Foi de ter medo. Na minha aldeia ouvi muito barulho de armas”, disse uma fonte a partir da comunidade de Alaca, no interior de Ocua.
Autoridades britânicas desaconselham viagens para Cabo Delgado
As autoridades britânicas desaconselham "todas as viagens" para o norte da província de Cabo Delgado devido a “ataques de grupos com ligações ao extremismo islâmico”, alertando igualmente para deslocações a Nampula.
Segundo informação enviada aos viajantes pelo Foreign Commonwealth & Development Office (FCDO), responsável pela proteção dos interesses e cidadãos britânicos no exterior, que se mantém em vigor há cerca de uma semana, o órgão desaconselha todas as deslocações aos distritos de Mueda, Nangade, Palma - exceto a cidade, para viagens essenciais - Mocímboa da Praia, Muidumbe, Meluco, Macomia, Quissanga e Ibo.
A Embaixada de França em Moçambique também já apelou aos cidadãos franceses para não viajarem para as cidades de Mocímboa da Praia, Pemba e Palma, em Cabo Delgado (norte), devido à “ameaça terrorista”.
“Devido à presença de uma ameaça terrorista e de rapto nas cidades de Mocímboa da Praia, Pemba e Palma, é fortemente recomendado não viajar para estas cidades, bem como viajar nas estradas que ligam estas localidades”, lê-se numa mensagem aos viajantes publicada em 14 de fevereiro pela Embaixada de França em Maputo.
O Presidente de Moçambiquedemonstrou no domingo desconforto com o apelo da Françaaos seus cidadãos para não viajarem para Cabo Delgado. Filipe Nyusi disse que seria expectável que as autoridades francesas, dada a sua amizade com Moçambique, decidissem apoiar e trabalhar com Maputo para combater a ameaça terrorista.