Moçambique: Autoridades impedem marcha contra onda de raptos
17 de outubro de 2021O contingente policial destacado para impedir a marcha, que seria realizada este sábado (16.10), apresentou à Associação Médica de Moçambique um documento assinado pelo presidente do município da cidade de Maputo, Eneas Comiche, indeferindo a iniciativa.
"Uma marcha não tem de ser autorizada porque é um direito constitucional. Nós, os organizadores, temos apenas o dever de comunicar as autoridades e foi o que fizemos", declarou Napoleão Viola, secretário-geral daquela associação.
Com a marcha, que devia começar na sede da organização, na avenida Eduardo Mondlane, e terminar na Praça da Independência, a Associação Médica de Moçambique pretendia manifestar o seu repudio contra a onda de raptos, bem como deixar uma mensagem de solidariedade para com uma das vítimas: o médico Basit Gani, raptado há mais de uma semana na capital moçambicana.
"Como estabelece a lei, nós enviamos às autoridades cartas para lhes comunicar a realização da marcha, mas não houve resposta. Fomos colhidos de surpresa no dia da realização da marcha com um cordão policial altamente armado para impedir a nossa manifestação", acrescentou.
Cartas ao Governo
A agência de notícias Lusa tentou, sem sucessos, obter um esclarecimento do Conselho Municipal da Cidade de Maputo e da Polícia da República de Moçambique. Apesar do episódio, a Associação Médica de Moçambique avançou que vai continuar com ações para exigir o fim da onda de raptos no país e a localização do médico Basit Gani, que é vice-presidente da Associação Moçambicana de Empresários e Empreendedores Muçulmanos.
"A associação não vai parar enquanto o nosso colega não for localizado. Trata-se de um médico jovem, membro da associação e que cumpre com as suas tarefas ao nível da sociedade. Ele merece a liberdade e, tal como outros, viver em segurança neste país", declarou Napoleão Viola.
A organização já escreveu cartas para o Presidente da República, Filipe Nyusi, e para o Ministério do Interior exigindo medidas concretas para travar estes crimes.
Três raptos em uma semana
As principais cidades moçambicanas têm sofrido com uma onda de raptos que afeta principalmente empresários ou os seus familiares.
No dia em que o médico foi levado à força, também o empresário Nazir Tadkir foi raptado em Maputo. Na sexta-feira (15.10), o filho mais velho do presidente da Confederação Empresarial da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CE-CPLP), o moçambicano Salimo Abdula, foi raptado, embora este último caso tenha ocorrido na África do Sul, segundo a imprensa local.
Em dezembro, o Presidente moçambicano anunciou a possibilidade de criação de uma unidade policial anti-raptos para combater a onda de crimes que se regista nas principais cidades moçambicanas.
No sábado, a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), a maior entidade patronal moçambicana, exigiu mecanismos concretos para travar a onda de raptos no país, disponibilizando-se para apoiar o Governo materialmente para melhorar a eficiência das autoridades no combate aos crimes.