Moçambique: Alunos sem manuais escolares em vários distritos
26 de setembro de 2022Alunos de escolas públicas de várias regiões de Moçambique terminaram o primeiro semestre sem manuais didáticos.
Só na província de Tete, 45 mil alunos da terceira classe não tiveram acesso aos materiais desde o início do ano letivo em meados de fevereiro, segundo o CIP.
Em entrevista à DW África, o investigador Aldemiro Bande diz que este atraso constitui uma violação do direito básico de acesso a ensino de qualidade e que em algumas escolas se recorreu ao uso de livros antigos.
Aldemiro Bande garante que o CIP está a acompanhar o caso com máxima atenção e deve intervir onde for necessário.
DW África: Qual a dimensão da situação neste momento?
Aldemiro Bande (AB): Este ano, o país registou o maior atraso na alocação dos livros escolares aos alunos do ensino primário nos últimos cinco anos. Há défice nas escolas primárias públicas, com maior incidência no segundo ciclo, especificamente a terceira classe. Na província de Tete, 45 mil alunos do terceiro ano não tiveram acesso aos livros desde o arranque do ano letivo em fevereiro. Passaram todo o semestre sem esse material didático importante no processo de ensino e aprendizagem. O caso da província de Tete, com um total 61 mil alunos sem livros escolares, não é isolado.
DW África: Confirma então que outras regiões do país são afetadas por esta situação?
AB: Há outras províncias como Manica, Inhambane e Sofala com a mesma situação de défice de livros escolares nas escolas primárias públicas. Já era de se esperar esta insuficiência de livros nas escolas, porque houve um atraso na impressão e distribuição dos manuais por parte do Ministério da Educação. Até o final do primeiro semestre havia escolas que ainda não tinham recebido os manuais da distribuição gratuita do ensino primário.
DW África: E como é que os alunos estão a fazer para terem acesso às matérias?
AB: Em algumas escolas, especificamente na província de Tete, nos distritos a norte, como Tsangano, Macanga, Zumbo, e a sul, como Mutarara, os alunos estão a estudar com base em manuais antigos e muitos destes já foram descontinuados. Houve a introdução de um novo currículo, era suposto que estes alunos estivessem a aprender com base nos livros do novo programa de ensino.
DW África: Para quando a regularização da distribuição dos manuais?
AB: No caso da província de Tete, a direção provincial de educação afirmou que os livros poderiam chegar aos distritos que ainda não beneficiaram da distribuição pelo menos no final da semana. Entretanto, a realidade mostra que muitas vezes essas promessas não chegam a ser cumpridas. No ano passado, tínhamos o caso dos livros da quinta classe que chegaram às escolas somente no final do ano letivo. Este é um indicativo que esta crise do livro poderá ainda perdurar nas escolas.