Moçambique: ACNUR pede ação contra abusos sexuais
9 de dezembro de 2021Um líder comunitário em Cabo Delgado abusou sexualmente de uma deslocada e pressionou o seu senhorio a ameaçá-la de despejo por esta ter apresentado queixa na polícia, de acordo com um relatório que ilustra casos de abuso no norte de Moçambique. A investigação foi feita pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e pela Escola de Higiene e Medicina Tropical da Universidade de Londres e levanta a prevalência da violência de género na região.
Resistência das vítimas gera mais abusos
Mulheres e raparigas que resistam ou apresentem queixa são ameaçadas de ser retiradas das listas de distribuição de assistência humanitária, "incluindo apoio em alimentos ou outras formas de assistência", lê-se no documento.
Sem apresentar números, o estudo mostra que os abusos feitos por grupos rebeldes continuam durante a fuga de zonas de conflito e nos locais de acolhimento. Samuel Chakwera, representante do ACNUR em Moçambique, diz estar preocupado com as "graves descobertas". O representante apela para que "se faça mais para dar resposta a esta crise e apoiar famílias deslocadas e respetivas comunidades de acolhimento".
Ajuda limitada fomenta aumento de problemas
Na opinião de Chakwera, o cenário reflete a falta de recursos para a ajuda humanitária. "A crise em Cabo Delgado enfrenta uma grande lacuna de apoio humanitário, um crescente número de deslocados, escassez de financiamento e um número limitado de agências humanitárias e estruturas de apoio a comunidades de acolhimento frequentemente sobrecarregadas", descreve.
Para o representante do ACNUR é essencial ter um apoio robusto para os programas de 2022, de forma que "os deslocados e as respetivas comunidades de acolhimento não enfrentem lacunas semelhantes em atividades vitais".
A província de Cabo Delgado, apesar de ser rica em gás natural, é aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, com alguns ataques a serem reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico. O conflito já provocou mais de 3.100 mortes segundo o projeto de registo de conflitos ACLED e mais de 817 mil deslocados, de acordo com as autoridades moçambicanas.