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Moçambique: Ativista propõe diálogo ou anulação das eleições

Conceição Matende
4 de dezembro de 2024

Presidente do Parlamento Juvenil é a favor do diálogo para se ultrapassar a crise política em Moçambique. “Aguardamos a marcação do próximo debate por parte dos quatro partidos concorrentes”, diz em entrevista à DW.

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Moçambique: manifestações contra os resultados das eleições
Mais uma fase de protestos contra a fraude eleitoral em MoçambiqueFoto: Jaime Álvaro/DW

Começou, esta quarta-feira (04.12), mais uma fase de protestos contra a fraude eleitoral em Moçambique, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que pediu uma paralisação da circulação automóvel entre as 8h00 da manhã e as 4h00 da tarde em todos os bairros do país, durante sete dias.

Num cenário de crescente tensão política no país, os jovens moçambicanos ameaçaram continuar com as manifestações enquanto a verdade eleitoral não for reposta.

David Fardo, presidente do Parlamento Juvenil, afirma que, se o Conselho Constitucional validar os resultados que favorecem a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), as manifestações continuarão a intensificar-se. Fardo lembra que os jovens manifestantes só querem que as suas vozes sejam ouvidas de uma vez por todas.

Considera, entretanto, que a recontagem dos votos seria uma das vias para a resolução da crise política que assola o país. Caso esta via não seja consensual, David Fardo defende como última decisão a anulação do processo eleitoral.

DW África: Como é que os jovens olham para a situação política de Moçambique?

David Fardo (DF): A principal causa destes protestos é influenciada pelos resultados eleitorais que não conferem a verdade eleitoral, ou seja, aquilo que foi à vontade depositada pelos cidadãos eleitores nas urnas no dia 9 de outubro. A juventude claramente ressentiu-se numa primeira fase.

Sessão do Parlamento Juvenil de Moçambique
“Jovens dizem que mais valem sete dias de fome do que ter que aguentar mais cinco anos a serem governados pelo partido FRELIMO”, afirma o presidente do Parlamento Juvenil moçambicanoFoto: Parlamento Juvenil de Moçambique

Atualmente, temos um grosso número de jovens que estão conscientes sobre os seus direitos, estão conscientes sobre o que se passa efetivamente em Moçambique. A maior parte deles já participou no processo eleitoral. São jovens que dizem que mais valem sete dias de fome do que ter que aguentar mais cinco anos a serem governados pelo partido no poder, neste caso o partido FRELIMO.

DW África: Neste caso, o que deve ser feito?

DF: Nesta situação, a nossa maior recomendação, o nosso maior apelo enquanto sociedade, enquanto juventude, nós apelamos aos órgãos de tomada de decisão, a CNE [Comissão Nacional Eleitoral], sobretudo o Conselho Constitucional, agora nesta fase, que possa trazer aquilo que é a verdade eleitoral, que possa partilhar os resultados que refletem aquilo que foi a vontade depositada pelos cidadãos nas urnas.

DW África: Os jovens não irão se cansar das longas demoras do Conselho Constitucional, assim como dos prolongamentos das manifestações?

DF: Antes, é preciso frisar que Venâncio Mondlane encontra esse espaço para convocar as manifestações; ele encontra igualmente um terreno fértil de uma sociedade que já estava com sede de se manifestar, uma sociedade que estava com sede de protestar contra o alto custo de vida, contra a falta de emprego, contra a corrupção, contra vários problemas da governação atual.

DW África: Acredita que os jovens irão se rebelar se o Conselho Constitucional validar os resultados dando vitória à FRELIMO?

DF: Pois! Estamos a falar de um partido que está no poder há 49 anos. Se olharmos para a governação, nada vai, nada vem. A juventude, um grosso número de jovens formados, desde a licenciatura ao mestrado, são jovens desempregados, alguns deles são funcionários das carteiras móveis. Estamos a falar de jovens que, na sua maioria, ressentem-se da ausência dos direitos básicos, como direito ao emprego, o direito à habitação, direito à saúde, transporte. E isto é algo que não se vê.

DW África: Qual seria a forma de se resolver este problema em Moçambique?

DF: A recontagem dos votos, a partir dos boletins que tanto o Conselho Constitucional como os partidos políticos e as organizações das áreas civil e observadoras têm. Por outro lado, a abertura de espaços de diálogo através dos quais se pode partilhar ideias de como é que se pode ultrapassar [esta crise] através dos partidos políticos ou dos outros candidatos, incluindo a própria sociedade civil, porque também faz parte, é extremamente importante.

Comunidade internacional reconhece vitória da FRELIMO?

Aguardamos, por exemplo, a marcação do próximo debate por parte dos quatro partidos concorrentes. Claramente que isso não foi possível da última vez pela ausência de Venâncio Mondlane, mas é importante que, através da plataforma digital, se possa criar espaço, seja virtual, para que este possa, igualmente, participar.

DW África: Os moçambicanos esperam que seja feita a recontagem dos votos?

DF: Aguardamos a recontagem, mas no caso de não se aceitar a recontagem, claramente que a última decisão é a anulação do processo eleitoral. Anulação, mas dentro de um termo de referência. E, dentro deste período, aguardando as próximas eleições.

Pode-se até criar aqui uma espécie de Governo de Unidade [Nacional], ou seja, um governo conjunto, de gestão, em que os próprios partidos políticos podem, assim, decidir e indicar quais são os membros que vão compor este governo, incluindo até a nível da própria Assembleia da República, enquanto se prepara os próximos pleitos eleitorais. Estamos esperançosos, sim, quanto a uma decisão final que pode, até certo ponto, galvanizar aquilo que é a democracia moçambicana.