Moçambicanos pouco esperançosos com a chegada do novo ano
28 de dezembro de 2023Moçambique entra no ano de 2024 com um velho problema: o conflito armado que se arrasta no Norte do país desde 2017.
De acordo com as autoridades moçambicanas, os grupos armados na região perderam vários dos seus líderes, como é exemplo a morte de Bonomade Machude, que comandava as operações na província de Cabo Delgado. Ainda assim, continuam a registar-se eventos violentos na região.
Alguns moçambicanos ouvidos pela DW esperam que seja erradicado o extremismo violento no próximo ano.
"As pessoas que se tinham deslocado voltaram às suas residências e, mesmo assim, muitas delas não podem ir ao mato onde têm as suas machambas por medo de encontrar-se com os insurgentes", comentou Milo Mariano, residente da cidade de Pemba, norte de Moçambique.
Jorge Gulambondo é um jovem de Tete que lidera uma associação de estudantes universitários finalistas na região. Ele quer que os moçambicanos não se esqueçam da insegurança no Norte do país.
"Temos o problema de terrorismo em Cabo Delgado e se, entre nós os moçambicanos, entre os partidos políticos, começarmos a lutar novamente como aconteceu há anos, estaremos a dar campo aos terroristas para adentrar noutras províncias", advertiu.
Cabo Delgado parcialmente em segurança
Um comandante do exército de Moçambique afirmou recentemente que a segurança na província de Cabo Delgado foi restabelecida em cerca de 90 por cento.
Moçambique realizou em 65 cidades e vilas as sextas eleições autárquicas a 11 de outubro deste ano. O sufrágio voltou a ser repetido em quatro municípios a 10 de dezembro. Os dois escrutínios foram e continuam a alimentar fortes críticas da oposição e da sociedade civil devido à alegada fraude que terá manchado o processo.
No ano que vem, os moçambicanos serão chamados para escolher o novo Presidente da República, deputados da Assembleia da República e membros das assembleias provinciais de onde sairão os 10 governadores provinciais.
Enquanto não se resolver os diferendos das eleições autárquicas, Neide Mussane, residente da província central de Manica, não vê razões para novas eleições.
"Eu não espero muito no próximo ano. Não espero algo de diferente, porque foram tantas as tentativas, o povo manifestou-se de diversas formas para mostrar que estava insatisfeito com o que aconteceu, mas a vontade do povo não prevaleceu. Não acredito que para o ano que vem possamos ter muitas mudanças", admitiu
Deterioração da transparência
Milo Mariano antevê também a deterioração da transparência nas eleições gerais.
"Se nós, como país, não conseguirmos resolver todas as irregularidades das eleições municipais, as eleições gerais vão piorar", alertou ainda.
Neide Mussane critica a alegada inércia da comunidade internacional no dossiê das eleições autárquicas.
"Alguns países investem muito dinheiro [em Moçambique], então eu acho que seria positivo que tivessem dito alguma coisa para manter a paz e manter aquilo que é a verdade eleitoral", frisou.
Para além das eleições, em 2024 os moçambicanos aguardam com expectativa o retorno dos grandes investimentos no setor petrolífero da gigante francesa TotalEnergies, que paralisou as suas operações quando os terroristas fizeram incursões em Palma, distrito que hospeda esse grande projeto energético.
No desporto, os Mambas vão procurar passar pela primeira vez a fase de grupos da Taça das Nações Africanas na Costa do Marfim. Neste cenário de desafios e esperanças, a população moçambicana enfrenta o novo ano com uma mistura de incertezas e aspirações.