Morte de líder do Hezbollah aumenta tensão no Médio Oriente
28 de setembro de 2024A tensão no Médio Oriente já está a provocar constragimentos no tráfego aéreo europeu. A Comissão Europeia e a Agência Europeia para a Segurança da Aviação (AESA) acabam de aconselhar, neste sábado (28.09), as companhias aéreas a "não operarem" no espaço aéreo do Líbano e de Israel. "A Comissão Europeia e a EASA decidiram emitir Boletins de Informação sobre Zonas de Conflito (CZIB), recomendando a não operação no espaço aéreo libanês e israelita a todos os níveis de voo", afirmaram. A recomendação está em vigor até 31 de outubro e pode ser revista, adaptada ou retirada na sequência de uma "análise de avaliação revista", segundo a agência espanhola Europa Press.
A AESA sublinhou que está a "acompanhar a situação" na região e as consequências para a aviação civil do confronto militar entre Israel e o Hezbollah. Constata-se uma "intensificação dos ataques aéreos" e a "degradação da situação de segurança", assinalou.
O aviso acontece na sequência do anúncio de Israel, que afirma que matou o líder do grupo xiita libanês Hezbollah na tarde de sexta-feira (27.09) durante um bombardeamento contra o quartel-general da milícia, supostamente localizado sob edifícios residenciais nos subúrbios de Beirute.
O grupo xiita libanês Hezbollah também já confirmou a morte de Hassan Nasrallah. "A sua eminência Sayyed Hassan Nasrallah, secretário-geral do Hezbollah, juntou-se aos seus grandes e imortais mártires", anunciou o grupo em comunicado.
A operação comandada pelo poder em Telavive acontece na sequência da intensificação dos ataques do grupo libanês contra território israelita, após a invasão de Gaza, motivada pelo ataque do Hamas no dia 7 de outubro de 2023.
Turquia fala em genocídio
O Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, acusou Israel de promover "um genocídio" no Líbano e criticou os "ataques brutais" contra o Hezbollah que causaram a morte de centenas de civis nos últimos dias.
"O Líbano e o povo libanês são o novo alvo da política de genocídio, ocupação e invasão levada a cabo por Israel desde 7 de outubro", afirmou o presidente turco numa mensagem publicada na rede social X.
Já o Irão assegurou que o caminho do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, vai continuar após a sua morte. "O caminho glorioso do líder da resistência Hassan Nasrallah vai continuar e o seu objetivo sagrado de libertar Jerusalém será realizado, se Deus quiser", escreveu o porta-voz da diplomacia iraniana, Naser Kanani, nas redes sociais.
Anteriormente, o líder supremo do Irão, Ali Khamenei, tinha apelado ao mundo muçulmano para apoiar o Hezbollah no confronto com Israel, numa mensagem sem qualquer referência a Nasrallah.
"É obrigatório para todos os muçulmanos apoiar orgulhosamente o povo libanês e o Hezbollah com os seus recursos e ajudá-lo a enfrentar o regime usurpador, cruel e maléfico [de Israel]", afirmou Khamenei, numa mensagem divulgada pela agência oficial Irna.
O Irão lidera e financia o chamado "eixo de resistência" contra Israel, que inclui o Hezbollah, o Hamas palestiniano e os huthis do Iémen, além de outros grupo extremistas.
O Hezbollah também declarou que vai continuar a "guerra santa" contra Israel, apesar da morte de Nasrallah.
Hamas reage
O grupo islamita palestino Hamas enviou este sábado as suas condolências pela morte do líder do grupo xiita libanês e condenou a "bárbara agressão" de Israel contra o Líbano, bem como os seus ataques a edifícios residenciais ao longo desta semana.
"Estendemos as nossas mais sinceras condolências, simpatia e solidariedade ao irmão povo libanês e aos irmãos do Hezbollah e da Resistência Islâmica no Líbano", disse o Hamas em comunicado.
No texto, o Hamas lembrou que "o sangue puro" derramado no Líbano é consequência do apoio ao povo e à resistência palestina e disse que está misturado com o sangue dos "mártires" de Gaza e da Cisjordânia ocupada.
Líbano evacua hospitais
As autoridades do Líbano estão a preparar-se para evacuar os hospitais localizados nos subúrbios do sul de Beirute, após a intensa onda de bombardeamentos israelitas.
O Ministério da Saúde Pública, que ainda não apresentou um número de vítimas nestes últimos ataques matinais, fez um apelo aos "hospitais em Beirute, Monte Líbano e áreas não afetadas pela agressão israelita” para que deixem de tratar casos não urgentes pelo menos até o final da próxima semana.
"É para permitir a receção de pacientes dos hospitais dos subúrbios do sul de Beirute, que serão evacuados devido ao desenvolvimento da agressão", anunciou o departamento governamental líbanês em comunicado.
"O Ministério também pede aos hospitais e centros de saúde para que se preparem para prestar cuidados aos pacientes deslocados durante a noite dos subúrbios, pois prevê-se que as suas responsabilidades e tarefas se intensifiquem com o aumento do número (de pessoas deslocadas)”, acrescentou a nota.
Desde a última guerra entre Israel e o seu grupo, em 2006, o poderoso líder do Hezbollah vivia escondido, mas, na sexta-feira, o exército israelita conseguiu localizar e matar Hassan Nasrallah.
Inimigo declarado de Israel, raramente aparecia em público desde a guerra de 2006, e o seu local de residência era mantido em segredo, segundo a agência francesa AFP. Recebeu, no entanto, visitas, incluindo os dirigentes de grupos palestinianos aliados ao Hezbollah, que publicaram fotografias dos encontros.
Jornalistas e figuras públicas que se encontraram com Nasrallah afirmam ter sido levados em carros com cortinas negras e com medidas de segurança reforçadas, para um local não identificável.
Nasrallah fazia regularmente discursos que eram transmitidos em direto, com todo o país a assistir. Era o homem mais poderoso do Líbano, decidindo sobre a guerra ou a paz no país, à frente de uma milícia impressionante e fortemente armada. Este religioso de 64 anos era objeto de um verdadeiro culto de personalidade entre os apoiantes, nomeadamente no seio da comunidade muçulmana xiita. Era o líder carismático do Hezbollah desde 1992, quando sucedeu a Abbas Moussaoui, também ele assassinado por Israel.
Desde então, desenvolveu o Hezbollah, armado e financiado pelo Irão, até se tornar uma força política representada no parlamento e no governo. Ao mesmo tempo, desenvolveu o arsenal do Hezbollah, que diz contar com 100.000 combatentes e armas poderosas, incluindo mísseis de alta precisão.