Morte de Bin Laden poderá radicalizar Al-Qaida do Magrebe, diz ministro do Mali
3 de maio de 2011Para o chefe da diplomacia do Mali, Soumeylou Boubèye Maiga, a morte de Bin Laden poderá radicalizar a Al-Qaida no Magrebe Islâmico (AQMI), o braço da rede terrorista naquela região do norte africano.
Numa entrevista ao jornal francês Le Monde, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Mali, ao falar das consequências no Sahel da eliminação física do chefe da Al-Qaida, considerou que a AQMI se vê agora privada da sua principal fonte de inspiração ideológica e operacional. Por um lado e por outro, o que aconteceu vai aumentar a curto prazo o ele que chamou de “fuga para a frente”.
De acordo com Soumeylou Maiga, os confrontos vão tornar-se mais diretos, se a AQMI se radicalizar. “A imensidão do território dos países do Sahel constitui portanto um desafio para esses Estados”, avaliou o ministro.
A AQMI opera em vários países do Sahel, nomeadamente no Mali, na Mauritânia e no Níger. Nesses países, a organização tem levado a cabo vários atentados e raptos, sobretudo de ocidentais. Recorde-se que foi este grupo que reivindicou o rapto no norte do Níger, em setembro último, de cinco franceses, um malgaxe e um togolês, sendo três deles libertos em fevereiro. A AQMI tem ainda como reféns 4 franceses na região do Sahel, a sul do deserto do Saara, e exige em troca da sua libertação que a França retire as suas tropas do Afeganistão, como sempre exigiu Bin Laden.
Mas na região do Sahel, o momento não é de otimismo, como disse em entrevista à DW o jornalista Moussa Aksar, diretor do jornal L’Événement, do Níger: “Podemos dizer que estamos um pouco preocupados com o futuro dos reféns franceses que se encontram nas mãos da AQMI. Não se deve esquecer que no Níger, a população é cerca de 90% muçulmana e portanto, com a morte de Bin Laden e a intervenção da coligação internacional na Líbia, a situação tende a piorar”, avalia Aksar.
“Por outro lado, com o conflito na Líbia, chegaram ao Níger milhares de refugiados, uma situação que desencadeou no país um sentimento anti ocidental que está em vias de se propagar. A AQMI aproveita-se desta situação”, disse o jornalista.
Quénia vê “justiça” na morte de Bin Laden
O Quénia, que foi por duas vezes alvo de atentados imputados à Al-Qaida, o primeiro em 1988 e o segundo (contra israelitas) em 2002, também reagiu à morte de Bin Laden. Simon Kimoni é o porta-voz da associação das vítimas do atentado contra a embaixada dos Estados Unidos em Nairóbi, que, em 1998, fez mais de 200 mortos. “Estamos muito satisfeitos que os americanos tenham conseguido matar Bin Laden.Trata-se de uma boa notícia para os sobreviventes do atentado no Quénia”, afirma Kimoni.
Entretanto, no Egito não se conhece por enquanto uma reação oficial. O ministério dos Negócios Estrangeiros egípcio somente anunciou num comunicado que condenava todas as formas de violência, numa altura em que medidas de segurança eram reforçadas no aeroporto da capital, Cairo. O número dois da Al-Qaida, Ayman al-Zawahiri, é de origem egípcia.
Rede terrorista não é só uma pessoa, diz iraquiano
Já no Iraque, os chiitas dizem estar aliviados, como este ouvido pela Deutsche Welle: “Bin Laden morto marca um fim de uma época sombria. A sua morte é o fim de todos os atos criminosos que até hoje fustigaram o Iraque. A sua morte será também o fim de todos os outros criminosos”, espera a testemunha.
Outro iraquiano adverte: “A Al-Qaida não é apenas uma pessoa. O problema é muito mais complexo. Sim, Usama Bin Laden está morto, mas é mais perigoso porque a própria Al-Qaida é extremamente popular em muitos países árabes.
Autor: António Rocha
Revisão: Renate Krieger