Morreu Joseph Ratzinger, o papa Bento XVI
31 de dezembro de 2022Com a sua renúncia, a 28 de fevereiro de 2013, o papa Bento XVI escreveu um novo e importante capítulo da história da Igreja. Um papa da Alemanha, 60 anos após a Segunda Guerra Mundial e o holocausto, o assassinato dos judeus perpetrado pelos nazis alemães. Um papa proveniente da terra de Martinho Lutero, a terra da "divisão da Igreja".
No pontificado de quase oito anos de Bento XVI nem tudo foram rosas, pelo contrário: foi um período também ofuscado por escândalos e crises na Igreja.
"Os cardeais escolheram-me. Um simples e humilde trabalhador da vinha do Senhor". Foi com estas palavras que o cardeal Joseph Ratzinger pisou o chão da Basílica de São Pedro em Roma, no dia 19 de abril de 2005, e imediatamente gerou simpatia. Ratzinger tinha então 78 anos de idade.
Bento XVI foi um papa conservador, mas foi também um papa que tentou oferecer suporte pastoral a todos os crentes. A sua tarefa não era nada fácil, uma vez que sucedia a um papa muito carismático e amado pela comunidade: João Paulo II - o papa polaco que foi chefe da Igreja entre 1978-2005.
Sacerdote, professor, papa
Para Ratzinger, a eleição como papa foi o culminar de uma vida que começou em 16 de abril de 1927 na região alemã da Baviera.
O pai de Joseph era um gendarme e a sua família era profundamente religiosa. Aos 17 anos, o futuro papa foi convocado para a Wehrmacht - o Exército nazi - no final de 1944. Logo após o fim da guerra, estudou teologia e foi ordenado sacerdote - como o seu irmão Georg, que era três anos mais velho que ele; a única irmã permaneceu solteira.
No final da década de 1950, Ratzinger tornou-se professor de teologia e rapidamente ganhou reputação. A partir de 1963, participou no Concílio Vaticano II (entre 1962 e 1965).
Em 1977, Ratzinger foi nomeado arcebispo de Munique-Freising e logo se tornou cardeal. Quatro anos depois, o papa João Paulo II levou-o para Roma, para ocupar o importante cargo de líder da Congregação para a Doutrina da Fé.
Na disputa sobre questões de ensino, questões de reforma como o papel da mulher ou o ecumenismo, Ratzinger defendeu um curso estritamente conservador.
Abuso de menores na Igreja manchou mandato
A eleição de Bento XVI como papa em 2005 gerou aplausos e orgulho entre os católicos alemães. "Nós somos papa" foi a manchete do maior tablóide da época. Mas também havia reservas e temores: o 265º papa da história da Igreja era muito velho, aos 78 anos, dizia-se na altura. Pensava-se que seria incapaz de realizar reformas devido ao seu caráter conservador.
O escândalo em torno do abuso em massa de menores por clérigos católicos ofuscou o mandato de Bento XVI. Em muitos países, como a Irlanda, os Estados Unidos, a Austrália e a Bélgica, e a partir de 2010 também na Alemanha, um número crescente de casos de violência sexual vieram à tona.
Os críticos reclamaram que a Igreja não estava a reagir de forma decisiva o suficiente, tentando encobrir os crimes. Terá sido esse escândalo que levou o papa Bento XVI a renunciar ao cargo?
Talvez. De qualquer das formas, a decisão comoveu e chocou muitos católicos e causou espanto em todo o mundo. Muitos católicos, que tinham a imagem quase eterna de um papa que deve servir até a morte, ficaram irritados. Mas, no final, a renúncia foi vista pela maioria como uma decisão corajosa.
Bento XVI morreu. Um homem com uma biografia invulgar. O papa emérito era admirado e respeitado na sua terra natal, a Alemanha, e no mundo.