Produção de carvão vegetal causa desflorestação
30 de dezembro de 2016Gabriel Mugabe é carvoeiro há oito anos. Ele sabe que queimar madeira para fazer carvão é mau para o meio ambiente, mas este é o sustento da sua família. Segundo ele, o negócio nem é tão lucrativo quanto se pensa: cada saco de carvão é vendido a 250 meticais, pouco mais de três euros. A margem de lucro é de 15%.
O carvoeiro, de 40 anos de idade, sabe que é necessário repor as árvores que corta. "Não é só ficarmos satisfeitos por, ao cortar as árvores, ficarmos beneficiados. O Governo tem de criar condições para podermos fazer este trabalho - porque é para o bem dos nossos filhos."
Mas Mugabe reconhece que não está capacitado para fazer o reflorestamento: "Precisamos de muito apoio onde nós operamos. Eu, sozinho, como operador, não posso fazer nada sem apoio. Mas se existir alguém que nos venha cá ensinar..."
É no Posto Administrativo de Combomune, distrito de Mabalane, na província de Gaza, que opera a maioria dos carvoeiros licenciados - associações e pessoas singulares, como Gabriel Mugabe. Estima-se que, todos os anos, são produzidos no distrito 56 mil sacos de carvão. Mas as florestas têm cada vez menos árvores.
Autoridades incentivam reflorestamento mas não têm programa
O setor das Atividades Económicas do distrito encoraja os operadores florestais a repor as árvores que são abatidas, mas não tem um programa de reflorestação.
Segundo Narciso Cerveja, diretor das Atividades Económicas em Mabalane, "ideias existem - um caso concreto é o do distrito de Mabalane, que não tem um viveiro para efeitos de reflorestamento, mas é fornecido pela província - só que, nos últimos dois anos, devido à seca severa, nenhuma planta está aqui."
"Mas mas não descarto a iniciativa e encorajamento para o reflorestamento", acrescenta Cerveja. O distrito, refere o responsável, tem apostado na plantação de fruteiras, mas não na reposição da "Xanasi", a árvore nativa que é mais usada para a produção de carvão.
As autoridades justificam a escolha com a difícil reprodução deste tipo de árvores e com o muito tempo que elas precisam para crescer. Isso levanta uma interrogação quanto ao futuro dos carvoeiros.
Proibição desencadeia pressão noutros lugares
Há três anos, as autoridades moçambicanas proibiram a exploração de carvão nos distritos de Chókwè e Massingir, na província de Gaza, para travar o corte desenfreado de madeira para produzir carvão. Mas isso fez com que a pressão aumentasse noutros distritos, onde se costumava fazer exploração apenas para fins domésticos, afirma Júlia Mwito, diretora provincial da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural.
"Houve migração aqui e começaram a intensificar a exploração do carvão noutros distritos, estamos a falar de Mabalane, Chigubo, Chicualacuala", exemplica Mwito. "O volume de produção e exploração florestal está muito acima do normal. Estamos numa situação de sobre-exploração. Só de carvão estamos duas vezes acima da média na província. É preocupante e urge tomar medidas."
A diretora provincial do setor diz que é preciso reforçar a educação ambiental nas comunidades. Na província de Gaza estão licenciados cerca de 350 carvoeiros, entre singulares e concessões.