Moçambicanos plantam árvores para combater desflorestação em Vanduzi
12 de março de 2012“Esta era uma ‘farma’ (quinta) perdida e não tinha mais árvores”, descreve assim José Manuel uma área da sua região de Vanduzi. As queimadas descontroladas e o abate ilegal de árvores, de valor comercial elevado, para extração de madeira e de combustível lenhoso, devastaram aquela área central de Moçambique. O cenário de desflorestação encontrou, contudo, uma população com vontade de remar contra a maré.
O projeto de reflorestamento de Vanduzi nasceu da vontade da comunidade. Planta-se umbila e panga-panga “para não deixar avançar a erosão, para conter queimadas descontroladas”, explica José Manuel, membro daquela comunidade. Esta iniciativa conta com o apoio das autoridades governamentais, depois de no ano passado se ter tentado levá-la a cabo, mas sem êxito pois “os morcegos começaram a destruir”, recorda José Manuel.
A plantação de árvores tem como objetivo melhorar o meio ambiente, mas também servir como garantia de recursos para as próximas gerações. Segundo Sandra Maria, “os bambus estão longe e ao plantarmos as árvores os nossos filhos amanhã terão como construir suas casas". Também da comunidade de Vanduzi, Sandra aprecia o reflorestamento: “Está bonito, estou a gostar porque aqui não tem nada [árvores]”, “as árvores acabaram”, lamenta.
Sabe-se que com a extração legal da madeira, as comunidades beneficiam de 20 % das receitas que as empresas concedem. Mas as comunidades também beneficiam da madeira, como elucida Ana Fernando: “as florestas estão boas porque como acabaram as árvores temos que voltar a plantar outras. Fazemos isso, todos nós, para o projecto andar. Isto é para vender, construir nossas casas com os barrotes”.
Iniciativa comunitária cativa o apoio das autoridades
O Centro de Desenvolvimento Sustentável dos Recursos Naturais está a apoiar as comunidades de Vanduzi na disponibilização de mudas de eucaliptos, de panga-panga, umbila, que são árvores de rendimento, para o reflorestamento. Nazário Mbawa detalha que se trabalha de um trabalho em conjunto, pois “fazemos a monitoria, temos um cronograma, assistimos à evolução dos factos e corrigimos aspectos junto das comunidades”.
De acordo com Nazário Mbawa, os “aspectos financeiros, fundamentalmente, não são marcantes mas são necessários para iniciar o projeto”. Mas há outras formas de atuar no terreno, nomeadamente “aconselhamos outras comunidades e os próprios líderes para que se juntem a outros parceiros para conseguirem obter as mudas ou outras formas de trabalho que forem consentâneas para essa integração que se pretende”, precisa Nazário Mbawa.
O centro disponibilizou uma equipa para formação das comunidades em técnicas florestais. É que no local onde as comunidades trabalham, há agora plantas exóticas que precisam de cuidados especiais: “fazemos as demonstrações de boas práticas. Ensinamos as comunidades como devem fazer, em termos de compassos entre as plantas para permitir um bom crescimento. Capacitamos este comité de gestão, nesta primeira fase, apenas relacionada com o plantio e (...), na segunda fase, é sobre as queimadas descontroladas. Portanto, capacitamos em técnicas para controlar as queimadas", precisa Nazário Mbawa.
Devido à gestão das florestas, em 2009, as comunidades de Vanduzi, em Manica, conseguiram obter quase quatro mil euros como resultado da concessão de 20% das receitas por parte das empresas de extração legal de madeira. Com essa verba foram construídos pequenos empreendimentos.
Autor: Romeu da Silva (Maputo)
Edição: Glória Sousa / Helena Ferro de Gouveia