Ministro alemão propõe fim da exportação de armas para países como Angola
29 de julho de 2014
A exportação de armamento é um negócio importante no país da chanceler Angela Merkel. A faturação anual das vendas ao exterior ronda os seis mil milhões de euros. Mas em Berlim pondera-se agora proibir qualquer fornecimento de armas a países que não pertençam à União Europeia (UE) e à Organização do Tratado do Atlântico Norte, NATO. Limitar a venda de armas a países da UE e da NATO impediria que elas acabassem por chegar a países que não cumprem os critérios democráticos e de respeito dos direitos humanos exigidos pela Alemanha. É claramente, por exemplo, o caso de Angola.
Este país não é dos clientes mais assíduos da indústria de armamento alemã, recebendo sobretudo material para a desminagem. No entanto, recentemente, manifestara algum interesse em adquirir barcos de patrulha da Alemanha, no que fora encorajado pelo Governo de Berlim. O negócio acabou por não se realizar, mas, de futuro, segundo a vontade do ministro Sigmar Gabriel, ele nem sequer seria uma hipótese.
"Não podemos exportar armas nenhumas para esses países, a não ser que interesses de segurança especiais da Alemanha nos permitam abrir uma exceção", disse o ministro social-democrata da Economia.
Esta seria uma mudança radical na política de exportação de armamento de Berlim. Em 2013, 60% das vendas externas destinaram-se a países fora da Aliança Atlântica e da União Europeia, como a Arábia Saudita, a Argélia e a Indonésia. Isto, apesar da lei alemã proibir a exportação para zonas de crise ou Governos que possam usar as armas para oprimir a população.
Sequelas económicas nefastas?
Evidentemente, os planos do ministro não são universalmente bem aceites na Alemanha. A indústria do armamento vê os seus interesses lesados. Alguns analistas vêem possíveis consequências nefastas para a economia germânica.
"Na Alemanha, há entre 80 000 a 100 000 postos de trabalho diretamente dependentes desta indústria, entre os quais muitos que exigem profissionais de alta tecnologia muito especializados", comenta o perito em matéria de armamento, Thomas Wiegold. "Não se pode dizer ao certo quantos desses postos de trabalho desapareceriam caso as regras de exportação fossem agravadas."
O ministro Gabriel tem que contar também com a resistência dentro da coligação governamental com a União Cristã-Democrata da chanceler Merkel (CDU) e a União Cristã-Social (CSU), o partido-irmão bávaro.
O ministro-presidente da Baviera e chefe da CSU, Horst Seehofer, já protestou contra os planos do seu colega no Governo. É na Baviera, de resto, que se encontram algumas das maiores fábricas de armamento na Alemanha.
O ministro Gabriel não pretende abandonar a indústria à sua sorte. Prova disso é a proposta que fez recentemente de que fossem prestadas ajudas a fabricantes de armamento europeias que tenham de renunciar a fornecimentos por causa de sanções impostas pela política a países terceiros.
Gabriel não deixou de criticar os parceiros franceses por insistirem em fornecer armamento à Rússia, apesar das sanções em vigor por causa da atuação de Moscovo no conflito na Ucrânia.
"A exportação de armamento não pode ser um instrumento da política económica. Deve ser um instrumento da política externa e de segurança. E se não tivermos muito cuidado, depressa se transforma num negócio com a morte", afirmou o ministro social-democrata.