Milhares de libaneses protestam contra crise económica
20 de outubro de 2019Dezenas de milhares de libaneses manifestaram-se este domingo (20.10) em várias cidades do país contra o regime e a grave crise económica num dos maiores protestos antigovernamentais já realizados no Líbano.
Segundo a agência de notícias norte-americana Associated Press (AP), os manifestantes dançavam e cantavam nas ruas e alguns agitavam bandeiras libanesas a gritar: "O povo quer derrubar o regime".
Este já é o quarto dia consecutivo de protestos espontâneos no país e devem prosseguir esta segunda-feira (21.10). Os manifestantes quiseram demonstrar a "raiva crescente contra uma classe dominante que dividiu o poder entre si e acumulou riquezas durante décadas, mas pouco fez para regenerar uma economia em ruínas e deixou as infraestruturas degradadas", diz a AP.
A Associação de Bancos Libaneses anunciou o encerramento de todas as agências bancárias esta segunda-feira, com o objetivo de "garantir a segurança dos funcionários" durante as manifestações. Os distúrbios surgiram após o Governo propor novos impostos, como parte de medidas de austeridade, para fazer face a uma crescente crise económica.
"As pessoas não aguentam mais", disse em Beirute o manifestante Nader Fares, que está desempregado. "Não há boas escolas, eletricidade e água", acrescentou.
Governo reage
O Governo do Líbano está numa corrida contra o tempo para apresentar um plano de resgate económico e acalmar a população. Na noite de sábado (19.10), o líder cristão libanês Samir Geagea abandonou o governo de coligação e quatro dos seus ministros renunciaram.
Geagea, que chefia o Partido das Forças Libanesas, de direita, afirmou que já não acredita que o atual Governo de unidade nacional, liderado pelo primeiro-ministro Saad Hariri, consiga retirar o país da profunda crise económica. "Estamos agora convencidos de que o Governo é incapaz de assumir as medidas necessárias para salvar a situação. Em consequência, o nosso bloco decidiu pedir aos seus ministros para se demitirem", declarou.
Na noite de sexta-feira, o primeiro-ministro libanês, Saad Hariri, tinha dado aos seus parceiros da coligação governamental um ultimato de 72 horas, para apoiarem as reformas económicas em curso. O país atravessa uma crise económica sem precedentes, com uma dívida que corresponde a 150% do Produto Interno Bruto (PIB).
Na noite deste domingo, os principais partidos libaneses aceitaram as reformas económicas propostas pelo primeiro-ministro. A reforma deve ser aprovada formalmente na segunda-feira de manhã durante um conselho de ministros, que contará com a presença do presidente do Líbano, Michel Aoun.
A principal motivação dos protestos foi a decisão do Governo de impor novos impostos, no quadro de um programa de austeridade, taxando, por exemplo, as chamadas e mensagens através da aplicação WhatsApp.