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Mesa de diálogo em Moçambique exclui Venâncio Mondlane

10 de janeiro de 2025

Nyusi reuniu-se com os partidos mais votados no diálogo nacional, mas Venâncio Mondlane foi novamente excluído. "Excluir Mondlane é um erro grave", afirmou à DW o jornalista Luís Nhachote.

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Venâncio Mondlane em  Maputo
Foto: Jaime Álvaro/DW

O Presidente cessante de Moçambique, Filipe Nyusi, reuniu nesta quinta-feira (09.01), os cinco partidos mais votados nas últimas eleições gerais, no âmbito do diálogo nacional em busca de soluções para a crise pós-eleitoralque assola o país. No entanto, o encontro voltou a excluir Venâncio Mondlane, o segundo candidato mais votado nas eleições de 9 de outubro, gerando críticas e questionamentos sobre a legitimidade do processo.

Em entrevista à DW África, o jornalista moçambicano Luís Nhachote foi categórico ao criticar a ausência de Mondlane nas negociações. Para ele, a exclusão representa um erro estratégico: "Têm que lhe incluir na mesa do debate. Ignorar Venâncio Mondlane é agir com uma imbecilidade enorme", afirmou Nhachote, destacando o papel do político como um dos principais interlocutores da crise política no país.

Nhachote enfatizou ainda que Mondlane se tornou um símbolo das vozes sociais mais desfavorecidas. "Ele é o farol, a luz que guia os moçambicanos nos seus problemas mais graves, como saúde e educação. A sua ausência enfraquece qualquer tentativa de resolução eficaz da crise", reforçou o jornalista.

Luis Filipe Nhachote
Luis Filipe Nhachote Foto: Luis Nhachote

DW África: Faz sentido que Venâncio Mondlane continue excluído das negociações sobre a crise pós-eleitoral?
Luís Nhachote (LN): É necessário incluí-lo na mesa de debate. Não se pode ignorar o ator, Venâncio Mondlane, como interlocutor nesta questão da crise social, muito mais de uma crise pós-eleitoral. Venâncio Mondlane acabou por ser o porta-voz dos problemas sociais que os moçambicanos enfrentam. Então, estes têm no Venâncio o seu farol, a sua luz, o seu guia, aquele que pode, na mesa de negociações, levar questões cruciais para a vida dos nossos cidadãos, como saúde, educação, etc.

DW África: Venâncio Mondlane já não estaria em desvantagem, tendo em conta que nunca foi incluído nas reuniões e que os outros participantes têm discutido estas questões há muito tempo?

LN: Ele está a contrabalançar para que isso seja levado em consideração. Só o exercício que ele fez hoje, sair do aeroporto, autoproclamando-se, seguir a marcha até um mercado informal que reúne um grupo de cidadãos moçambicanos, que é um grupo de excluídos, e ele vai até a baixa da cidade. Portanto, ele procurou as camadas sociais mais desfavorecidas para levantar a sua voz. Penso que, só esta demonstração de que tem apoio, suporte de base, não podemos ignorar que ele é um fator importante a ser chamado. Talvez pudessem estar a ignorar a realidade da sua ausência física, mas ele está agora livre.

Candidatos presidenciais: Daniel Chapo | Lutero Simango | Ossufo Momade | Venâncio Mondlane
PR Nyusi reuniu com o principais candidatos, em busca de soluções para a crise pós-eleitoral. Ausente, Venâncio Mondlane continua excluído das negociações.Foto: ALFREDO ZUNIGA/AFP/Getty Images/Nádia Issufo/DW/Bernardo Jequete/DW/Cristiane Vieira Teixeira/DW

DW África: Perspectiva-se então um novo capítulo nas negociações. Venâncio Mondlane poderá não conseguir influenciar de forma significativa os debates nesta mesa de negociação?

LN: Creio que não. O seu oponente nas eleições é praticamente da mesma faixa etária, separados por uma diferença de alguns anos, e podem dialogar mais ou menos dentro do mesmo espírito. Muito diferente do atual incumbente, que já está de saída e não tem mais nada, nem para oferecer, nem para a mesa de diálogo. Não entendo, por exemplo, como ele ainda conseguiu reunir as quatro pessoas numa altura em que exonerou o Governo. Parece-me que há algo aqui que precisamos descortinar ou descobrir o que ele pretende fazer.

DW África: Qual é o significado do juramento de Venâncio Mondlane hoje? Que mensagem ele tentou passar com este ato?

LN: A sua crença, a sua fé, mas parece ser a réplica. Hoje vimos a réplica do que foi, não na mesma dimensão, o que houve em Nairobi, com Raila Odinga há alguns anos. Este cenário já tinha sido desenhado. Não tem um efeito legal, mas tem um efeito psicológico, do ponto de vista de galvanizar massas muito grandes. E é este ativo que ele ativou hoje, que também o leva a ser considerado uma pessoa importante, uma pessoa de interesse. Ele veio provar com este ato que não pode ser ignorado, e quem tentar fazê-lo estaria a agir com uma imbecilidade enorme. 

Venâncio Mondlane declara-se o "Presidente eleito pelo povo moçambicano"