Mbanza Congo: Património da Humanidade sem mudanças
8 de julho de 2021A antiga capital do Reino Kongo, Mbanza Congo, é hoje uma referência histórica mundial, depois de ter sido elevada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) à categoria de Património Cultural da Humanidade, em 2017.
As atividades alusivas ao quarto aniversário desde que a cidade ganhou o título da UNESCO, que se assinala esta quinta-feira (08.07) começaram no dia 1 de julho, com uma cerimónia tradicional, denominada Lembo, que serve para pedir a proteção dos ancestrais.
No entanto, passados quatro anos desde a elevação de Mbanza Congo a Património Cultural da Humanidade, pouco ou nada mudou na cidade e na província do Zaire, dizem os munícipes ouvidos pela DW África.
"Podemos observar quase nada, não se mudou nada porque é património da humanidade", diz o jovem Ndongala. "A não ser os passeios que foram cimentados na véspera das celebrações da 1ª edição do Festikongo, no ano 2019", acrescenta. A UNESCO, considera o jovem, é a única entidade que pode mudar a situação.
Lutaladio José, outro munícipe de Mbanza Congo, é da mesma opinião: "Como património mundial, ainda não vi nada de diferente na nossa cidade. Para mim, ainda não temos uma cidade que, quando a pessoa chega, diz 'sim esse é mesmo um património mundial'. Deveria ter coisas mais atraentes", lamenta.
Refletir sobre a falta de desenvolvimento
O chefe das autoridades tradicionais, Afonso Mendes, lembra que na província do Zaire, em especial na cidade património da humanidade, até ao momento, não foi erguida nenhuma estrutura de grande vulto. "Nada, nenhuma coisa se fez aqui na nossa província, absolutamente nada", sublinha. O Presidente João Lourenço, lamenta, "vai várias vezes a outras províncias, porque lá há infraestruturas de qualidade para inaugurar. Aqui, enquanto ainda não temos, não pode vir. O que vai inaugurar?".
Por isso, deixa um apelo ao chefe de Estado: "Que venha à província do Zaire, principalmente à capital da província, que está muito mal. Os jovens não têm emprego".
A juventude zairense, diz o ativista António Castelo, encontra-se num clima de reflexão, sobretudo sobre o futuro da província, que pouco ou nada regista no que diz respeito ao desenvolvimento. "A juventude zairense não está feliz com o nível de desenvolvimento infraestrutural e até mesmo humano que a província vive. O contexto que estamos a viver não nos permite ficarmos ansiosos e alegres a festejar o aniversário do património de Mbanza Congo", afirma.
"Seria bom se estes valores, se é que existem, fossem alocados para obras que precisamos, como por exemplo asfaltar as ruas de Mbanza Congo que neste tempo de cacimbo é uma tremenda nuvem de poeira", acrescenta.
Água e eletricidade foram ganhos, diz administrador
O sistema de abastecimento de água potável e a ampliação na distribuição de energia elétrica foram ganhos obtidos durante estes quatro anos, destaca o administrador municipal, Manuel Gomes. "Temos a ampliação da água, que vai beneficiar a comunidade das 100 casas, e a energia eléctrica", garante.
"Neste preciso momento, estamos a trabalhar para manter cada vez mais a nossa cidade sempre limpa. Os vestígios históricos que circundam a cidade do antigo Reino do Kongo, bem como as ruínas do Kulumbimbi, o cemitério dos reis do Kongo, bem como a árvore secular Yala Nkuwu, são alguns dos atributos que fizeram com que a cidade fosse elevada à categoria de Património Cultural da Humanidade", recorda.