Marrocos regressa à União Africana
31 de janeiro de 2017Na 28ª cimeira da União Africana (UA), que arrancou esta segunda-feira (30.01), em Addis Abeba, capital da Etiópia, os representantes optaram por adiar a questão sobre o disputado território do Sahara Ocidental e Marrocos foi readmitido na família africana.
"Marrocos é agora um membro de pleno direito da União Africana. Houve um longo debate, mas 39 dos 54 estados-membros aprovaram o regresso de Marrocos, mesmo que a questão do Saara Ocidental ainda permaneça", disse o chefe de Estado senegalês, Macky Sall. "Se a família cresce, podemos encontrar soluções como uma família", acrescentou.
"África quer falar a uma só voz, precisamos que todos os países africanos façam parte dessa voz", reforçou a Presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf.
Os delegados presentes no debate descreveram a discussão como tensa e emocional, com posições muito vincadas, nomeadamente por parte da Argélia e da África do Sul que rejeitaram a readmissão de Marrocos.
O país tinha deixado a organização pan-africana em 1984, em protesto contra a admissão da República Árabe Saharaui Democrática (RASD) proclamada pela Frente Polisário - que reclama um referendo pela autodeterminação.
Nessa altura, o rei de Marrocos Mohamed VI afirmou que a decisão do país de reintegrar a UA não significava que Rabat iria renunciar dos seus direitos sobre o território do Saara Ocidental.
Moussa Faki Mahamat eleito
Antes, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Chade, Moussa Faki Mahamat, foi eleito novo presidente da comissão da organização pan-africana. Mahamat representa o bloco dos países do Sahel e da África Central e substitui no cargo a sul-africana Nkosazana Dlamini Zuma, que recusou disputar um segundo mandato.
O porta-voz do Presidente chadiano, Mahamat Hissein, saudou a vitória: "Esta eleição é uma realização para a diplomacia chadiana e representa a emergência do Chade no seio do continente africano. Espero que o novo presidente da comissão promova a União Africana e a sua consolidação".
A batalha pela liderança da comissão da UA não foi fácil, com cinco candidatos ao cargo. Depois de sete rondas de votação, o chefe da diplomacia do Chade venceu a última batalha frente à sua homóloga queniana, Amina Mohamed.
O resultado não agradou a Doki Warou Mahamat, coordenador de uma campanha contra a candidatura de Moussa Faki Mahamat, que classifica como "um representante da ditadura". "O povo do Chade está de luto. O Chade vive numa ditadura e são essas pessoas que lideram a União Africana. Para mostrar o quê?", criticou.
Jurista de formação, Moussa Faki Mahamat, de 56 anos, tem uma longa experiência governativa. Foi diretor do gabinete do Presidente chadiano Idriss Déby Itno entre 1999 e 2002, ocupou o cargo de primeiro-ministro entre 2003 e 2005 e, desde 2008, é chefe da diplomacia do Chade.
Mas é na luta contra o terrorismo que Moussa Faki Mahamat mais se tem distinguido, enquanto presidente do Conselho de Ministros do G5 Sahel, um grupo de cinco países responsável por garantir a segurança daquela região.
Nomeação de Condé sem surpresas
Ainda esta segunda-feira, o Presidente da Guiné-Conacri, Alpha Condé, foi nomeado, sem surpresas, presidente da União Africana, um cargo meramente representativo. A nomeação foi criticada por Faya Lansana Millimouno, líder do partido da oposição guineense Bloco Liberal.
"A Guiné enfrenta dificuldades. Como é que alguém que não consegue resolver os problemas de um país tão pequeno como a Guiné (com pouco mais de 145 quilómetros quadrados) vai resolver os problemas de todos os africanos?", questionou Millimouno.
O presidente da UA é nomeado pelos seus pares por um mandato de um ano não renovável e segundo critérios de rotação geográfica.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, esteve em Addis Abeba para apelar aos países africanos para abrirem as suas fronteiras aos refugiados. A 28ª cimeira da União Africana termina esta terça-feira (31.01).