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Mali continua a esperar pela paz

Philipp Sandner
25 de março de 2018

As Forças Armadas alemãs estão presentes há cinco anos no Mali. Uma extensão da operação já é considerada provável, na medida em que os conflitos continuam no país ameaçado pelo radicalismo islâmico.

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Mali Gao - Nomaden bei Kamelmarkt
Foto: Getty Images/A. Koerner

O Governo do Mali está sob pressão para ter sucesso. Finalmente pode haver uma melhora, uma saída para a crise. Em julho, o Presidente Ibrahim Boubacar Keita pretende se reeleger, mas a implementação do tratado de paz, assinado pelo Governo e algumas das partes em conflito em Argel em 2015, está estagnada.

A agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) regista mais de 134 mil refugiados, e a tendência é aumentar – embora o Governo tente convencer os refugiados a retornar. Ao mesmo tempo, esforços são feitos para reintegrar na sociedade os membros e militantes das partes em conflito.

Zahabi Ould Sidi Mohamed, presidente da comissão responsável, diz: "Quanto mais nos aproximamos da implementação do acordo [de paz], da reintegração dos combatentes, mais os grupos que estão fora deste processo fazem para atrasá-lo". Os oponentes do acordo se beneficiaram do caos, diz ele em conversa com a DW África.

Incerteza não só no norte do Mali

Nigeria Ibrahim Boubacar Keita in Abuja
Presidente Ibrahim Boubacar KeitaFoto: Reuters/A. Sotunde

Um caos que sobrecarrega a vida cotidiana da população. Isto também é confirmado pelo mais recente "Mali-Barometer" – uma pesquisa que a fundação alemã Friedrich Ebert realiza anualmente em todo o país. Em novembro do ano passado, mais de dois mil malianos expressaram suas opiniões sobre a situação política do país.

"A maioria dos entrevistados acredita que a implementação do acordo de paz é fundamental para garantir estabilidade, paz e segurança no Mali", diz Philipp Goldberg, responsável pelo estudo como chefe do escritório da fundação no Mali. Mas depois de três anos, a opinião esmagadora é que não aconteceu muita coisa aqui, afirma Goldberg, acrescentando que "a maioria dos cidadãos vê sua segurança pessoal apenas suficientemente ou não garantida".

A crise tornou-se mais complexa e confusa, diz Goldberg em entrevista à DW África. O norte do país estava temporariamente nas mãos de grupos radicais islâmicos e outros grupos rebeldes após um golpe militar em 2012. A situação mudou após a intervenção das Forças Armadas francesas. Mas as coisas no norte do Mali continuam incertas. E no centro do país aumenta a incerteza, diz Goldberg. Colheitas pobres ajudam a agravar a crise sobre a subsistência de diferentes grupos populacionais.

A desconfiança nas tropas internacionais

O barômetro do Mali mostra que a confiança nas tropas internacionais no país não é muito alta. As Forças Armadas alemãs (Bundeswehr, em alemão) participam da Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas no Mali (MINUSMA), que compreende um total de cerca de 11 mil soldados de 50 nações. França também está no país com sua própria missão militar. Na semana passada, o Parlamento alemão decidiu aumentar o contingente de soldados alemães no Mali de mil para 1.100.

"Os entrevistados acusam a MINUSMA de não proteger suficientemente a população da violência e do terrorismo, e em parte até mesmo serem cúmplices das tropas armadas", revela Philipp Goldberg.

Mali Gao Bundeswehr UN Mission MINUSMA
Soldado alemão na missão da ONU no norte do MaliFoto: picture-alliance/NurPhoto/M. heine

Para o especialista em segurança nigeriano Issoufou Yahaya, a presença internacional representa um problema crucial. A missão da ONU e a missão militar francesa no país tinham interesses diferentes – e ambas questionaram a soberania do Estado maliano.

"Se concordassem em permitir às autoridades malianas toda a sua autoridade e dar-lhes a bênção da comunidade internacional, isso seria um passo na direção certa", diz Yahaya, professor de ciência política na Universidade de Washington. 

O vizinho Níger: um modelo na luta contra a radicalização

No Mali, também deve haver mais tentativas de promoção da pacificação através do diálogo, diz Yahaya. O pré-requisito para isso, no entanto, são as fortes administrações locais. Aqui, o cientista político vê uma diferença decisiva em seu país natal, o Níger. O país, que tem uma fronteira de 800 quilômetros com o Mali, conseguiu manter sua autoridade em toda a área nos anos de crise no vizinho. Vários conflitos próprios foram resolvidos construtivamente pelo povo do Níger e os tratados de paz foram respeitados.

Todas as partes em conflito estavam comprometidas com a reconstrução do país, disse Yahaya. "A maioria de seus representantes hoje está em posições de responsabilidade em nível local em suas províncias de origem". Essas pessoas recuperaram seu lugar na sociedade e se tornaram atores-chave nas bases, ressalta o especialista em segurança.

Mali Timbuktu - Tuareg
Grande parte da população maliana é formada por jovensFoto: Getty Images/AFP/E. Feferberg

Entretanto, a situação é bastante diferente no Mali, onde houve acordos e eleições forçadas pela comunidade internacional. O acordo de 2015 também previa medidas de descentralização, mas os especialistas disseram que praticamente nada foi implementado.

Inclusão da juventude

O reconhecimento das autoridades locais também é uma estratégia para o sucesso contra a radicalização dos adolescentes, aponta Yahaya. No Níger, por exemplo, pregadores extremistas foram repetidamente despistados pelas instituições estatais. Mas a infraestrutura do Estado no norte do Mali continua muito fraca – uma lacuna explorada pelos grupos islâmicos, mesmo na busca por novos combatentes.

"O Mali tem uma das populações mais jovens de toda a região do Sahel", afirma Philipp Goldberg, da fundação Friedrich Ebert. "O desemprego atingiu proporções dramáticas", por isso, é essencial que estes jovens tenham diferentes perspetivas para que o país possa superar a crise, avalia o pesquisador alemão.

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