Magistrados argelinos prometem boicotar presidenciais
14 de abril de 2019Os magistrados da Argélia, que desempenham um papel fundamental na supervisão das eleições do país, disseram este sábado (13.04) que boicotariam a eleição presidencial de 4 de julho em apoio ao movimento de protesto.
Mais de 100 magistrados participaram de um protesto em frente ao Ministério da Justiça em resposta a uma iniciativa do Clube dos Magistrados - um grupo emergente criado como uma alternativa ao Sindicato Nacional de Magistrados do regime.
"O Clube dos Magistrados decidiu boicotar a tarefa de supervisionar a eleição presidencial", disse Saad Eddine Merzoug, um juiz de El Oued, no sudeste do país.
Merzoug afirmou que o novo órgão tem membros em todos os tribunais do país, sem especificar números.
Segundo a Liga Argelina para a Defesa dos Direitos Humanos, vários ativistas foram presos no sábado, enquanto se preparavam para voltar ao principal local de protestos na capital, condenando a ação.
Said Salhi, vice-presidente da Liga, observou que o clima era diferente em comparação à sexta-feira (12.04).
"Geralmente [as manifestações] começam alegremente, mas havia um desejo por parte das autoridades de limpar a área", disse, acrescentando que o ponto de virada aconteceu dias antes, quando a polícia tentou pela primeira vez dispersar uma manifestação estudantil em Argel com gás lacrimogêneo e canhão de água.
Os manifestantes prometeram continuar com os protestos contra o Governo interino de e as eleições planejadas para 4 de julho, argumentando que os líderes que emergiram do "sistema" Bouteflika não podem garantir votações livres e justas.
Aumento da repressão
Os protestos inicialmente calmos da passada sexta-feira (12.04), no centro de Argel, deterioraram-se e transformaram-se na pior violência de rua desde que as manifestações começaram em meados de fevereiro, exigindo o fim do mandato de 20 anos do então Presidente Abdelaziz Bouteflika, que renunciou em 2 de abril.
A polícia disparou jatos de água e gás lacrimogêneo contra os manifestantes que, por sua vez, lançaram pedras e garrafas, incendiaram pelo menos um carro da polícia e transformaram grandes lixeiras em barricadas.
Foram relatados ferimentos por ambos os lados e ativistas levantaram temores de que o impasse tenha entrado em uma nova fase.
"A mobilização de sexta-feira foi diferente por causa da escala da repressão," segundo a vice-presidente da Liga Argelina para a Defesa dos Direitos Humanos.
A cientista política Cherif Driss avalia que, enquanto as manifestações continuaram inabaláveis, "a polícia está a reduzir o espaço público para expressão".
Driss disse ainda, no entanto, que "a resposta permanece moderada e profissional. Não há repressão brutal".
Presos e feridos
A polícia atribuiu a violência de sexta-feira a "delinquentes" infiltrados na multidão e disse que 108 pessoas haviam sido presas, enquanto alguns manifestantes também responsabilizaram "arruaceiros" pelos confrontos.
A Direção Geral de Segurança Nacional informou que 83 policiais haviam sofrido ferimentos, mas negou ter recorrido a táticas repressivas e disse que estava apenas a manter a ordem pública.
Vários manifestantes também foram feridos e pelo menos um foi atingido no peito pelo que parecia ser uma bala de borracha, segundo um fotógrafo da AFP.
Grupos de ativistas enfatizaram seu compromisso com a não-violência, embora algumas lojas e propriedades tenham sido danificadas após os protestos nos primeiros dias do movimento.
"Os manifestantes estão muito comprometidos com a continuação do movimento em sua forma pacífica", disse Abdelwahab Ferfaoui do grupo cívico Youth Action Rally. "Esta é a chave do sucesso,“ afirmou.