Líder do PODEMOS: "Resultados divulgados não correspondem"
14 de outubro de 2024O partido PODEMOS, que suportou a candidatura presidencial de Venâncio Mondlane, já começou a impugnar os resultados parciais das eleições gerais do passado dia 9 de outubro em Moçambique.
O presidente do partido, Albino Forquilha, diz, em entrevista à DW, que os resultados estão a ser "adulterados". Denuncia ainda que há uma intenção secreta de colocar o Partido Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique em terceiro lugar, a seguir à Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), alegadamente para beneficiar o líder Ossufo Momade.
Entretanto, contactado por telefone pela DW sobre as acusações do PODEMOS, Paulo Cuinica, porta-voz da Comissão Nacional de Eleições, disse que o órgão ainda não reuniu para tratar deste assunto e prometeu reagir em tempo oportuno a estas alegações.
DW África: Como avalia o processo eleitoral em Moçambique?
Albino Forquilha (AF): Nós estamos muito desapontados. A votação [mostra] que o partido PODEMOS ficou muito à frente. Houve uma luta bastante renhida entre a FRELIMO e o PODEMOS, mas a soma total, pelo menos dos editais em nossa posse, dá-nos vantagem.
DW África: Então, porque é que estão dececionados?
AF: Ficamos admirados ao deparar-nos, nos apuramentos intermédios nos distritos, com uma percentagem bastante baixa do PODEMOS, que não corresponde – de forma alguma – aos editais e atas em nossa posse. E nós [sabemos] de fontes fidedignas que houve uma instrução superior para a Comissão Nacional de Eleições fazer o máximo ao seu alcance para não permitir que o PODEMOS esteja em primeiro lugar ou até em segundo lugar, para acomodar os compromissos que a presidência do partido FRELIMO [no poder] tem com o líder da RENAMO [Ossufo Momade], para o manter na segunda posição e com o estatuto de líder da oposição, que lhe confere alguns benefícios.
DW África: Tem provas disso?
AF: Temos prova de que os resultados que vão sendo divulgados em muitos distritos não correspondem aos editais e atas que os nossos delegados de candidatura recolheram no próprio dia. É na mesa de votação que há os resultados reais, e quando eles não conseguem fazer alguma manipulação na mesa, aproveitam o tempo do transporte dos editais para o distrito: algumas malas com esses documentos são escondidas ou são feitas outras mudanças. Isso está a acontecer e temos provas disso.
DW África: O que vai fazer o PODEMOS?
AF: O PODEMOS está numa frente política e numa frente judicial. Com base nas provas que temos, desde o último fim de semana, decorrem julgamentos de processos de impugnação que submetemos, e há outros processos que estão a entrar. Esses processos visam impugnar os resultados que estão a ser apresentados pelo distrito, porque não conferem com os editais em nossa posse.
DW África: Ou seja, não é impugnar os resultados globais, mas os distritais?
AF: Neste momento, estamos a impugnar o que está a acontecer nos distritos, porque é com base na impugnação do distrito que se formula a impugnação nacional.
DW África: Está a querer dizer que o PODEMOS ganhou estas eleições?
AF: Nós ganhámos essas eleições, pelo menos, pelos dados que temos neste momento. Quando começaram a ver que estamos a ganhar estas eleições, começou a [ser usado] um conjunto de artimanhas de não querer assinar as atas, assinar as atas a lápis para que os dados não fiquem ou não aceitar carimbar editais a nosso favor.
DW África: Admitem integrar Venâncio Mondlane como dirigente do PODEMOS, no futuro?
AF: Assinámos um acordo com Mondlane porque há uma compatibilidade de valores, de princípios, de exemplo de governação. Como Mondlane não é membro efetivo do PODEMOS, se ele algum dia entender que quer fazer parte do partido, entrará no circuito em que eu também entrei, como qualquer membro entrou.