Líder da UNITA acusado de desviar dinheiro de Angola para a Europa
23 de abril de 2012O presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) é acusado de estar a desviar milhões de dólares do maior partido com representação parlamentar para contas privadas na Europa.
A acusação, que é suportada por documentos publicados por vários jornais em Luanda, surge depois de informações sobre um suposto acordo entre a UNITA e o governo angolano avaliado em cem milhões de dólares, fruto da devolução do património deste partido confiscado durante a guerra.
Semanário não retira “nem uma vírgula”
Numa das suas últimas edições, o “Semanário Angolense” refere pessoas que teriam sido utilizadas para, através de um esquema financeiro, levarem o dinheiro ao destino final, isto é, a vários bancos europeus, com destaque para França, Espanha e Reino Unido, onde Samakuva tem família e um vasto património.
Segundo o semanário, há documentos, cuja origem não foi divulgada e que foram apresentados durante uma entrevista a Samakuva, em que se provam as movimentações. O diretor interino do periódico, Ilídio Manuel, assegura que “foram cumpridos todos os pressupostos” do ponto de vista jornalístico, nomeadamente a confrontação das fontes. “O próprio Isaías Samakuva foi ouvido pelo nosso jornalista e naturalmente desmentiu, o que não implica que não se tenha que produzir a matéria”, justifica.
O “Semanário Angolense” garante que não retira “nem uma vírgula” do que escreveu sobre o líder da UNITA e diz que pode apresentar em tribunal as suas provas sobre a questão em causa. “Isto não constitui nenhum motivo de preocupação. Aliás, o próprio documento foi exibido ao presidente da UNITA na altura”, sublinha o diretor interino da publicação privada angolana.
Samakuva diz-se “injuriado”
Isaías Samakuva, que visita a Alemanha esta semana, nega tudo e promete processar o “Semanário Angolense”, o periódico que divulgou mais factos sobre o caso, que acusa de estar a tratar da sua imagem de maneira negativa há já vários meses. O presidente da UNITA disse à DW África que foi “profundamente maltratado” e “injuriado” e que a notícia “choca a sua honra.”
“Porque são eles os órgãos competentes, os tribunais vão chegar às suas conclusões e naturalmente depois tiraremos as conseqüências que irão corresponder aos atos provocados”, declarou Samakuva, que para além do “Semanário Angolense” pretende processar outras publicações por “colocarem o seu nome na lama”, cinco meses antes das eleições gerais em Angola.
“Estas acusações, que têm apenas tentado manchar o bom nome da UNITA e do seu presidente, não podem continuar a ser feitas impunemente”, salienta o líder do maior partido da oposição angolana. “Portanto, é bom que aqueles que se aproveitam dessas acusações tenham a possibilidade de provar e apresentar provas e fundamentos das acusações que fazem”, defende.
JES alvo de acusações semelhantes
Há alguns meses, o presidente angolano, José Eduardo dos Santos, também foi acusado de ter em sua posse milhões de dólares, que teriam sido desviados do erário público para contas privadas na Europa.
A acusação, que se apoiava em números de contas e valores, foi desvalorizada na última semana pela Procuradoria Geral da República, alegando que não lhe cabe a si a investigação ao chefe de Estado angolano.
Autor: Manuel Vieira (Luanda)
Edição: Madalena Sampaio/António Rocha