Lula à procura de parceiros para levar a paz à Ucrânia
23 de abril de 2023Luiz Inácio Lula da Silva tem "muita gratidão por África", de onde o Brasil herdou muitos valores do seu património cultural. O Presidente brasileiro considera, por isso, que o Brasil não pode pagar em dinheiro a dívida que tem com os africanos.
"A gente tem que pagar em solidariedade, em fraternidade, em transferência de conhecimento, em transferência de ciência e tecnologia, na ajuda (…); eu quero voltar a visitar África para renegociar. E tudo isso passa por uma conversa com Portugal porque é o grande aliado nessa relação", referiu o Chefe de Estado do Brasil no final da cimeira luso-brasileira, no último sábado (22.04).
O Chefe de Estado brasileiro recordou os vários projetos, nomeadamente em Moçambique, nas áreas da saúde e da educação. Mas, antes, na conferência de imprensa após o encontro com o seu anfitrião Marcelo Rebelo de Sousa, Lula foi várias vezes confrontado pelos jornalistas a propósito do recente posicionamento polémico do Brasil sobre a guerra na Ucrânia. Posição que ele tratou de esclarecer.
"Eu não quero agradar ninguém. Eu quero é construir uma forma de colocar os dois [Rússia e Ucrânia] na mesa. E é por isso que nós temos que encontrar um grupo de pessoas que estejam dispostas a falar em paz e não em guerra", frisou.
Dúvida na retória de Lula
Jonuel Gonçalves, académico angolano no ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa (IUL), considera que a posição contradiz a forma como o Brasil estava a votar nas Nações Unidas. "O Brasil procura neutralidade mas o facto é que as declarações de Lula, mais do que qualquer outra coisa, deixaram uma dúvida sobre se não há uma inclinação a favor da Rússia ou pelo menos tendente a levar a Ucrânia a fazer concessões inclusivamente territoriais", opina.
Na perspetiva do analista angolano, a diplomacia brasileira tem dois caminhos: entra em concorrência com a diplomacia francesa ou junta-se a ela considerando que a França está a tentar a mesma linha.
Na opinião de Gonçalves, "é muito provável que as duas posições venham a juntar-se", sendo determinante para a preparação de negociações futuras o que Lula e os seus ministros disserem nesta visita a Portugal e a Espanha, país que deverá assumir a próxima presidência rotativa da União Europeia.
"Aí, sim, Lula vai provavelmente estar sob menos pressão em relação à guerra da Ucrânia e poderá então tratar com o Governo espanhol este problema que é o acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Que é absolutamente central, inclusive de impacto na economia mundial dada a importância dos atores em presença", comenta.
Esse acordo, cujos termos estão já estabelecidos, ainda não foi ratificado em vários parlamentos dos países envolvidos.
Acordo pelo fim da guerra
Gleiciete de Carvalho, cidadã brasileira ouvida pela DW enquanto aguardava a chegada de Lula a Belém, concorda com a posição assumida por Lula da Silva para se pôr fim à guerra na Ucrânia.
"Eu sou a favor. Eu penso como o Lula. Se o Presidente da Ucrânia tivesse feito um acordo não estaria a morrer tanta gente como está a morrer. Foi o que Lula propôs desde o começo: tentar acabar a guerra. É o que já deveria ter acontecido", referiu.
Lula da Silva, que abre esta segunda-feira (24.04) o Fórum Empresarial Portugal-Brasil, em Matosinhos, mandatou a sua ministra da Cultura, Margareth Menezes, para um encontro esta manhã com o secretário executivo da organização lusófona, Zacarias da Costa, na sua sede em Lisboa. No encontro, ambos analisam a adesão do Brasil à 3ª edição do Programa CPLP Audiovisual.
Para Jonuel Gonçalves, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) poderá eventualmente beneficiar dos acordos culturais luso-brasileiros.
"Mas não vai ter peso nem no que diz respeito ao posicionamento diplomático tanto de Portugal quanto do Brasil em relação à Ucrânia nem mesmo vai ter peso no que concerne então ao acordo entre a União Europeia e o Mercosul", concluiu.