Lixo continua a fazer parte da paisagem de Luanda
18 de abril de 2016Depois do fracasso do modelo de recolha de lixo, implementado a 1 de agosto do ano passado, o Governo angolano lançou, a 19 de março, um projeto cujo objetivo era acabar com o lixo nas ruas da capital em 45 dias.
Agentes da Polícia Nacional, da Proteção Civil e dos Bombeiros juntaram-se a igrejas, associações e empresas chinesas para criar a Comissão para a Limpeza e Recolha dos Resíduos Sólidos. Em cerca de um mês e meio iriam ajudar a eliminar os grandes focos de lixo nas ruas da cidade, que têm estado na origem de vários problemas de saúde pública, como a propagação de doenças como a febre amarela e a malária.
“Eu vivo mesmo no meio do lixo. Há pouco tempo, abandonei a minha casa durante cinco meses por causa deste cheiro e o lixo colocado à porta ainda se encontrava ali quando regressei”, conta Santa Mateus Francisco, moradora na zona do Kalawenda, no Cazenga. “Há muitos bichos aqui, sobem às camas, às mesas. As crianças não comem por causa destes bichos”.
No aterro sanitário dos Mulenvos, onde é depositado todo o lixo recolhido na capital, há um destes focos de lixo, mesmo à entrada do local onde são depositados os resíduos recolhidos.
A escassez de contentores para a colocação dos resíduos e a falta de acessibilidade nas zonas periféricas contribuem para o insucesso de mais um projeto para combater a acumulação de lixo.
“Nunca houve recolha aqui desde que terminou o programa Luanda Limpa e cederam as administrações municipais. Está péssimo, mesmo”, diz Pedro Mendes. Na sua área de jurisdição o lixo ainda não foi removido desde a entrada em vigor deste novo projeto.
Governo taxa cidadãos para a recolha do lixo
Segundo o secretário de Estado do Ambiente, Sianga Abílio, os cidadãos vão começar a pagar entre 500 e 15 mil kwanzas [entre 2,70 e 81,80 euros] e as empresas entre 20 mil e 150 mil kwanzas [entre 109,10 e 818,30 euros] pelo lixo produzido. O valor dependerá da zona de residência ou da localização da empresa.
Mariano Agostinho Miguel diz que há pouca informação sobre o modelo de pagamento. “Não sabemos como vai ser, se vai ser como no passado ou não. Antigamente, os sacos pagavam 50 e depois 100 kwanzas. Menos de dois meses depois, isso parou totalmente”, recorda.
Pedro Jordão, um morador em Luanda, também acha que falta informação sobre a medida e desconfia que estes valores possam ter um destino incerto por falta de transparência na gestão dos fundos públicos.
“[A grande questão é] como o Governo vai cobrar”, afirma Pedro Jordão. “Vai retirar uma percentagem dos nossos salários? Temos que depositar numa determinada conta? Quem vai fazer o controlo? Acho que vai ser mais uma forma de corrupção. Será para o benefício das pessoas que estão à frente deste projeto”.Em 2014, um diagnóstico do ministério do Ambiente dava conta que, em Angola, cada pessoa produz, diaramente, quatro quilogramas de lixo. Em Luanda, produz-se cerca de 1,3 milhões de toneladas de lixo anualmente e prevê-se um aumento na ordem dos 146% até 2025. Atualmente, vivem na capital angolana mais de seis milhões de pessoas.