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Livro retrata pobreza e exploração de crianças em Angola

António Rocha25 de agosto de 2014

"Pobreza - o epicentro da exploração das crianças em Angola", a primeira obra do jornalista Fernando Guelengue, é apresentada na Bienal do Livro de São Paulo, no Brasil. Um livro “incómodo” ainda sem editor em Angola.

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Angola Landwirtschaft Kwanza Sul
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt

Até ao próximo domingo (31.08), decorre na cidade brasileira de São Paulo a 23ª Bienal do Livro, que deverá receber 800 mil visitantes. Na edição deste ano, que visa fomentar o gosto pelos livros e pela leitura, participa o jornalista, professor e escritor angolano Fernando Guelengue, que vai autografar o seu primeiro livro.

Em "Pobreza - o epicentro da exploração das crianças em Angola", o autor aborda a situação real da criança angolana, os seus direitos fundamentais, a exploração e violência de menores, bem como as suas causas e consequências.

Segundo Fernando Guelengue, o livro é o resultado de uma reflexão sobre um tema que é muito complexo em todo o mundo, nomeadamente em Angola, que é a exploração de menores.

“O epicentro da exploração de menores em Angola é a pobreza no sentido de que a pobreza é um dos principais fatores que leva à exploração de menores em Angola. E a par da própria pobreza temos a falta de oportunidades de trabalho, o baixo rendimento financeiro dos pais e o analfabetismo”, explica o autor em entrevista à DW África.

“Dados assustadores”

O livro nasceu de uma abordagem inicialmente jornalística, em 2010, mas mais tarde a direção do órgão de comunicação social no qual trabalhava desafiou Guelengue a escrever sobre um tema relacionado com a problemática da exploração de menores.

Porträt - Fernando Guelengue
Fernando Guelengue, jornalista, professor e escritor angolanoFoto: privat

“Na altura, havia dados bastante assustadores, como a existência de mais de 70 mil crianças a ser exploradas pelo trabalho ilegal em Angola”, recorda o jornalista. O texto, que foi tema de destaque no jornal para o qual trabalhava, teve várias repercussões.

Por isso, o autor diz ter sentido “a responsabilidade de continuar a pesquisa e aprofundar o trabalho”, que acabou por ser publicado em forma de livro, “para ajudar não só os jornalistas, mas também as pessoas que trabalham com e para a criança no sentido de encontrar melhores saídas para a resolução da problemática da exploração de menores em Angola”.

Através de uma série de opiniões, Fernando Guelengue esclarece a situação real das crianças, apresenta as organizações que trabalham com os menores e como podem ser contactadas e dá algumas pistas que o autor considera importantes para a resolução do problema.

O jornalista procura ainda aprofundar as razões da mortalidade infantil, a questão das drogas, o seu enquadramento legislativo, a protecção e as formas possíveis de denunciar as violações de menores.

“O envolvimento das crianças na droga é fruto da pobreza”, lembra o autor, sublinhando ainda que a taxa de mortalidade infantil nos países em vias de desenvolvimento, ou países como Angola, é ainda bastante elevada, fruto do baixo incentivo aos setores básico: a educação, a saúde e a habitação”.

Ainda sem editor em Angola

“Efetivamente nada é fácil, principalmente no nosso país”, responde Fernando Guelengue quando lhe perguntam se foi difícil abordar um tema como este em Angola.

Cholera in Angola - Kinder beim Wasserholen
A pobreza é um dos principais fatores que leva à exploração de menores em AngolaFoto: AP

Apesar de ter encontrado “alguma abertura” já quando estava a terminar o livro, altura em algumas instituições se demonstraram “mais afáveis e abertas” e disponibilizaram alguns dados, “foi bastante difícil”, conta o autor.

“Não encontrei apoios para a edição do livro no meu próprio país”, lamenta o jornalista, que só encontrou forma de publicar o livro no Brasil, onde neste momento já está disponível para venda online.

“Teria muito gosto em poder lançá-lo em Angola”, afirma, defendendo ainda que “seria fundamental que as instituições do país tomassem a peito o livro no sentido de ser mais uma contribuição para a resolução da problemática da exploração de menores em Angola.”

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