Literatura no feminino começa a ganhar novos nomes em Moçambique
8 de julho de 2013
As novas gerações moçambicanas que revelam entusiasmo com a literatura não tem tarefa fácil, porque escrever um livro em Moçambique continua a ser uma tarefa recheada de obstáculos.
“A primeira vez que fui com livros para uma instituição, que não vou dizer o nome, a pedir apoio, a primeira impressão que me foi dada foi de que eu estaria emocionada, que aquilo não passaria de uma brincadeira. Isso desmotiva”, recorda Amélia Matavele.
A jovem escritora que começou há pouco tempo a dar os primeiros passos no mundo literário já tem um novo livro à espreita, entre dois trabalhos prontos, mas por publicar.
“É mais fácil acreditar num jovem escritor homem do que numa jovem escritora mulher, apesar de que para os dois há uma grande dificuldade em lançar um livro”, frisa.
Amélia Matavele foi uma das dezenas de participantes que na sexta-feira (05.07) estiveram no debate “Literatura Moçambicana”, no âmbito do sexto Encontro de Escritores Moçambicanos na Diáspora, realizado na Fundação José Saramago, durante três dias, em Lisboa.
Novos nomes
A literatura moçambicana produzida no feminino depois da independência, em junho 1975, tem crescido a passos curtos, mas conta com nomes de relevo que tem contribuído para a inclusão da mulher e engrandecimento da moçambicanidade.
A poetisa Noémia de Sousa é considerada o expoente máximo da literatura moçambicana produzida pela mão feminina antes de 1975.
Eco da dignificação da mulher, a escritora usou a poesia como arma e marcou o período de contestação ao regime colonial português. Depois da independência, começaram a surgir, embora a custo, outras vozes com papel ativo, como Lília Momplé, que se estreou em 1988 com o livro “Ninguém Matou Suhura”, uma obra que exalta a mulher combatente, educadora e mãe.
Mais tarde, surge a romancista Paulina Chiziane, que cresceu nos subúrbios de Maputo e que é autora de uma vasta literatura, recorda o escritor moçambicano, Carlos Paradona.
“Muito vasta e que fala sobretudo da mitologia africana e na posição mitológica da mulher moçambicana no contexto da sociedade”, diz.
A estas autoras, Paradona acrescenta outros nomes, como a poetisa Sónia Sultuane, “uma voz pujante que escreve sobretudo sobre a beleza da mulher moçambicana”.
“De uma forma geral a literatura moçambicana tem desempenhado um grande papel na divulgação dos valores culturais e da nossa moçambicanidade”, acrescenta o autor.
Ainda assim, o número de mulheres que escrevem continua a ser reduzido, defende Fátima Mendonça, professora de literatura na Universidade Eduardo Mondlane.
“Se tivermos em consideração que já há uma produção considerável a nível da poesia e da ficção narrativa, contam-se pelos dedos os nomes das autoras mulheres”, afirma a docente.
Poucas, mas com qualidade
Ana Mafalda Leite, escritora luso-moçambicana que lança no final deste ano um ensaio, concorda que o espaço que as mulheres ocupam na produção literária em Moçambique é pequeno, mas ainda assim relevante.
“Digamos que o número reduzido de mulheres escritoras tem um papel importante. São grandes escritoras. Tanto Paulina Chiziane, como Lília Momplé trouxeram um contributo muito grande”, exemplifica a autora.
“E neste momento começam a aparecer várias jovens que ainda não têm o seu nome firmado mas que publicam em várias revistas. É importante esta afirmação de género porque permite uma sociedade mais igualitária e mais democrática”, remata.