Linchamentos em África: quando os civis se tornam assassinos
8 de junho de 2016Publicidade
O correspondente da DW no Quénia, Eric Ponda, pensou que ia morrer. No ano passado, depois de fazer uma reportagem, enquanto voltava para casa, o seu carro estragou-se no meio do caminho.
O jornalista decidiu parar na berma da estrada, quando, de repente, o seu veículo tocou num peão. Eric parou para socorrer a vítima, mas, ao sair do automóvel, surgiram várias pessoas que o agrediram e danificaram o seu carro.
Por sorte, conta o correspondente da DW, apareceu um carro da polícia. “Foi a minha salvação. Se não fossem os agentes, talvez tivessem pegado fogo ao meu carro ou até mesmo a mim”, diz Eric.
Mais de 500 vítimas por ano
Atentados como este são comuns na região de Mombasa, na costa queniana. Por ano, 500 pessoas morrem em situações semelhantes. Em 2011, a polícia começou a classificar este tipo de crime como "justiça do linchamento". As autoridades registaram queixas de 543 vítimas.
“Sempre que vais a conduzir um carro, tens medo. Nunca sabes o que pode acontecer no próximo minuto”, diz Eric Ponda.
No Uganda, as vítimas mortais da “justiça do linchamento” chegaram às 590, em 2014. No Malawi, segundo a ONU, 16 pessoas foram assassinadas desta forma.
Na África do Sul, chamam a este acto bárbaro o “suplício da coleira”: populares furiosos colocam um pneu cheio de gasolina numa pessoa e ateiam fogo.
Em Moçambique, em 2014, as autoridades registaram o linchamento de 24 pessoas. Segundo a Procuradoria-geral da República, o centro e o norte do país são as regiões mais problemáticas. As vítimas são suspeitas de roubo e feitiçaria, entre outros crimes.
Porquê fazer justiça com as próprias mãos?
A criminologista Gail Super, da Universidade da Cidade do Cabo, culpa os problemas sociais e o fosso que existe entre as classes mais ricas da sociedade e as mais pobres pelo fenómeno do linchamento.
“As pessoas querem mostrar que as suas comunidades não toleram a criminalidade. Principalmente em comunidades carentes e pobres, onde as consequências de um roubo deixam marcas profundas. Atacando o ladrão, querem mostrar o que acontece a quem age como ele”, explica a especialista.
Em África, muitos consideram o linchamento o método mais eficaz contra a criminalidade. Muitos confiam mais na força da união de uma comunidade do que nas autoridades de segurança. E, em muitos países, faltam mesmo agentes da polícia.
Na Nigéria, por exemplo, um chefe da polícia denunciou recentemente na imprensa que no esexiste apenas um agente da polícia para cada grupo de quase 500 pessoas. A isto junta-se a corrupção e a desmotivação no trabalho.
“Não é fácil para a polícia”, diz Lizette Lancaster, diretora de um grupo de pesquisa sobre Criminalidade e Direitos do Instituto de Estudos de Segurança, na África do Sul, sublinhando que, “muitas vezes, a polícia chega tarde demais ao local do crime, quando outras pessoas já encontraram os corpos linchados. Dificilmente os agentes presenciam ou evitam os linchamentos”.
O jornalista decidiu parar na berma da estrada, quando, de repente, o seu veículo tocou num peão. Eric parou para socorrer a vítima, mas, ao sair do automóvel, surgiram várias pessoas que o agrediram e danificaram o seu carro.
Por sorte, conta o correspondente da DW, apareceu um carro da polícia. “Foi a minha salvação. Se não fossem os agentes, talvez tivessem pegado fogo ao meu carro ou até mesmo a mim”, diz Eric.
Mais de 500 vítimas por ano
Atentados como este são comuns na região de Mombasa, na costa queniana. Por ano, 500 pessoas morrem em situações semelhantes. Em 2011, a polícia começou a classificar este tipo de crime como "justiça do linchamento". As autoridades registaram queixas de 543 vítimas.
“Sempre que vais a conduzir um carro, tens medo. Nunca sabes o que pode acontecer no próximo minuto”, diz Eric Ponda.
No Uganda, as vítimas mortais da “justiça do linchamento” chegaram às 590, em 2014. No Malawi, segundo a ONU, 16 pessoas foram assassinadas desta forma.
Na África do Sul, chamam a este acto bárbaro o “suplício da coleira”: populares furiosos colocam um pneu cheio de gasolina numa pessoa e ateiam fogo.
Em Moçambique, em 2014, as autoridades registaram o linchamento de 24 pessoas. Segundo a Procuradoria-geral da República, o centro e o norte do país são as regiões mais problemáticas. As vítimas são suspeitas de roubo e feitiçaria, entre outros crimes.
Porquê fazer justiça com as próprias mãos?
A criminologista Gail Super, da Universidade da Cidade do Cabo, culpa os problemas sociais e o fosso que existe entre as classes mais ricas da sociedade e as mais pobres pelo fenómeno do linchamento.
“As pessoas querem mostrar que as suas comunidades não toleram a criminalidade. Principalmente em comunidades carentes e pobres, onde as consequências de um roubo deixam marcas profundas. Atacando o ladrão, querem mostrar o que acontece a quem age como ele”, explica a especialista.
Em África, muitos consideram o linchamento o método mais eficaz contra a criminalidade. Muitos confiam mais na força da união de uma comunidade do que nas autoridades de segurança. E, em muitos países, faltam mesmo agentes da polícia.
Na Nigéria, por exemplo, um chefe da polícia denunciou recentemente na imprensa que no esexiste apenas um agente da polícia para cada grupo de quase 500 pessoas. A isto junta-se a corrupção e a desmotivação no trabalho.
“Não é fácil para a polícia”, diz Lizette Lancaster, diretora de um grupo de pesquisa sobre Criminalidade e Direitos do Instituto de Estudos de Segurança, na África do Sul, sublinhando que, “muitas vezes, a polícia chega tarde demais ao local do crime, quando outras pessoas já encontraram os corpos linchados. Dificilmente os agentes presenciam ou evitam os linchamentos”.
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